São Paulo, sábado, 1 de novembro de 1997.



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A economia brasileira está vulnerável a ataques especulativos?

EM TERMOS
Riscos para os particulares

NOENIO SPINOLA

Entre os idos de 1987 e os dias de hoje, o movimento de capitais entre Bolsas ("cross-exchange") pulou de US$ 500 milhões para cerca de US$ 3 bilhões. Num período semelhante, a fatia dos capitais privados dirigidos para as economias em desenvolvimento cresceu de 50% para 90% do total.
Na virada deste século, os bancos norte-americanos, e provavelmente os europeus, estarão retirando das operações com terminais ligados à Internet algo como uma terça parte dos lucros no varejo.
Julgando pelo que acontece nos EUA, 40% das ações serão de propriedade de famílias com alto nível de educação e informação. Armados com micros plugados num telefone, os donos dessa poupança mudam de corretora, banco ou fundo de investimento ao simples toque dos dedos num teclado.
Some a essa extraordinária mobilidade do capital o efeito das privatizações sobre as tesourarias das empresas. Entregues à sua própria sorte, um caixa na Califórnia e outro em São Paulo terão de sobreviver com seus próprios meios aos riscos estruturais ou políticos de flutuação das taxas de juros e câmbio. Como reagirão?
Diante da volatilidade exportada por Hong Kong, o caixa da Califórnia pode recorrer a Chicago, vendendo ou comprando contratos em mercados futuros e de opções. Esses sistemas existem há muitas décadas, são cada vez mais globalizados e cada vez mais funcionam como formas alternativas de seguro, com "hedgers" transferindo riscos para especuladores ou outros "hedgers".
Os cenários expostos acima ajudam a separar o que é "risco estrutural" do que é o "risco da volatilidade"dos capitais neste fim de século.
Pelo que se viu na semana passada, com uma alta brutal das taxas de juros e enormes pressões sobre o câmbio e as ações, o Brasil e o caixa da empresa paulista passaram, em termos, pelo teste de resistência a curto prazo. Reflexos disso encontram-se nos volumes diários de cerca de US$ 50 bilhões em contratos futuros de juros, câmbio, opções e "swaps" liquidados por meio de "clearings" privadas.
No longo prazo, porém, as expectativas de taxas serão cada vez mais elevadas se fatores estruturais como o déficit público, a baixa poupança doméstica e um sistema de Previdência Social em decomposição não forem reformados.
Num cenário de economia de mercado, a alternativa para "clearings" fortes no país é a exportação dos mercados de cobertura de riscos. Ponderação nesse sentido foi discretamente feita pelo presidente em exercício da Bovespa, Raymundo Magliano, ao presidente Fernando Henrique Cardoso, numa conversa pelo telefone na noite de quinta-feira passada.

Noenio Spinola, 57, é jornalista. Foi superintendente de Relações Institucionais da Bolsa de Valores de São Paulo e diretor da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
E-mail: noenio@ibm.net



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