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A economia brasileira está vulnerável a ataques especulativos?
EM TERMOS
Riscos para os particulares
NOENIO SPINOLA
Entre os idos de 1987 e os dias de hoje,
o movimento de capitais entre Bolsas
("cross-exchange") pulou de US$ 500
milhões para cerca de US$ 3 bilhões.
Num período semelhante, a fatia dos
capitais privados dirigidos para as economias em desenvolvimento cresceu
de 50% para 90% do total.
Na virada deste século, os bancos
norte-americanos, e provavelmente os
europeus, estarão retirando das operações com terminais ligados à Internet
algo como uma terça parte dos lucros
no varejo.
Julgando pelo que acontece nos EUA,
40% das ações serão de propriedade de
famílias com alto nível de educação e
informação. Armados com micros plugados num telefone, os donos dessa
poupança mudam de corretora, banco
ou fundo de investimento ao simples
toque dos dedos num teclado.
Some a essa extraordinária mobilidade do capital o efeito das privatizações
sobre as tesourarias das empresas. Entregues à sua própria sorte, um caixa na
Califórnia e outro em São Paulo terão
de sobreviver com seus próprios meios
aos riscos estruturais ou políticos de
flutuação das taxas de juros e câmbio.
Como reagirão?
Diante da volatilidade exportada por
Hong Kong, o caixa da Califórnia pode
recorrer a Chicago, vendendo ou comprando contratos em mercados futuros
e de opções. Esses sistemas existem há
muitas décadas, são cada vez mais globalizados e cada vez mais funcionam
como formas alternativas de seguro,
com "hedgers" transferindo riscos para especuladores ou outros "hedgers".
Os cenários expostos acima ajudam a
separar o que é "risco estrutural" do
que é o "risco da volatilidade"dos capitais neste fim de século.
Pelo que se viu na semana passada,
com uma alta brutal das taxas de juros
e enormes pressões sobre o câmbio e as
ações, o Brasil e o caixa da empresa
paulista passaram, em termos, pelo teste de resistência a curto prazo. Reflexos
disso encontram-se nos volumes diários de cerca de US$ 50 bilhões em contratos futuros de juros, câmbio, opções
e "swaps" liquidados por meio de
"clearings" privadas.
No longo prazo, porém, as expectativas de taxas serão cada vez mais elevadas se fatores estruturais como o déficit
público, a baixa poupança doméstica e
um sistema de Previdência Social em
decomposição não forem reformados.
Num cenário de economia de mercado, a alternativa para "clearings" fortes no país é a exportação dos mercados
de cobertura de riscos. Ponderação
nesse sentido foi discretamente feita
pelo presidente em exercício da Bovespa, Raymundo Magliano, ao presidente
Fernando Henrique Cardoso, numa
conversa pelo telefone na noite de
quinta-feira passada.
Noenio Spinola, 57, é jornalista. Foi superintendente de
Relações Institucionais da Bolsa de Valores de São Paulo
e diretor da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
E-mail: noenio@ibm.net
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