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CLÓVIS ROSSI
Perder sem jogar
QUITO - Perdoe-me, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por intrometer-me em questões de Estado, mas sou
ouvinte profissional de campanhas
eleitorais e tenho o mau hábito de levá-las a sério.
Ouvi o senhor criticar o fato de a
Petrobras estar encomendando plataformas no exterior (Cingapura,
não é isso?) em vez de fazê-lo a fornecedores locais.
Pois é, presidente. Aqui em Quito
está se dando um fato que tem algum
parentesco com a sua reclamação.
Miami, Atlanta e a Cidade do Panamá montaram suas barraquinhas,
aproveitando a sétima reunião ministerial da Alca, para se venderem
como opções para sediar a tal Área
de Livre Comércio das Américas.
Já o Brasil brilha pela ausência. É o
segundo maior país da Alca, só atrás
dos Estados Unidos, seja em tamanho, seja em população, seja em economia (descontado o fato de que a
distorção cambial fez o México passar à frente ilusoriamente).
Será que fabricar plataformas no
Brasil é importante e servir de sede
para a Alca não é?
A Alca será formada por 34 países.
Cada vez que há uma reunião para
negociá-la, há uma chuva de funcionários técnicos e, conforme o nível do
encontro, de ministros, de assessores,
enfim, a corte a que o senhor vai se
habituar já, já. Essa gente deixa dinheiro no local em que se reúne e, logicamente, no local que servirá futuramente de sede permanente da organização.
Dinheiro que irriga a economia, estimula o setor de serviços. Suspeito
até que crie, indiretamente, mais empregos que os estaleiros que fazem
plataformas.
Eu sei que, se o Brasil entrasse no
jogo, perderia. É quase impossível
concorrer com os Estados Unidos. Só
para lhe dar um detalhe micro de
com quem o senhor vai lidar a partir
de janeiro: a turma deles traz até
uma unidade de saúde completa, pacotinhos de aspirina incluídos, para
seus negociadores.
Mas, presidente, perder sem jogar
não é muito mais feio?
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