São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

Perder sem jogar

QUITO - Perdoe-me, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por intrometer-me em questões de Estado, mas sou ouvinte profissional de campanhas eleitorais e tenho o mau hábito de levá-las a sério.
Ouvi o senhor criticar o fato de a Petrobras estar encomendando plataformas no exterior (Cingapura, não é isso?) em vez de fazê-lo a fornecedores locais.
Pois é, presidente. Aqui em Quito está se dando um fato que tem algum parentesco com a sua reclamação. Miami, Atlanta e a Cidade do Panamá montaram suas barraquinhas, aproveitando a sétima reunião ministerial da Alca, para se venderem como opções para sediar a tal Área de Livre Comércio das Américas.
Já o Brasil brilha pela ausência. É o segundo maior país da Alca, só atrás dos Estados Unidos, seja em tamanho, seja em população, seja em economia (descontado o fato de que a distorção cambial fez o México passar à frente ilusoriamente).
Será que fabricar plataformas no Brasil é importante e servir de sede para a Alca não é?
A Alca será formada por 34 países. Cada vez que há uma reunião para negociá-la, há uma chuva de funcionários técnicos e, conforme o nível do encontro, de ministros, de assessores, enfim, a corte a que o senhor vai se habituar já, já. Essa gente deixa dinheiro no local em que se reúne e, logicamente, no local que servirá futuramente de sede permanente da organização.
Dinheiro que irriga a economia, estimula o setor de serviços. Suspeito até que crie, indiretamente, mais empregos que os estaleiros que fazem plataformas.
Eu sei que, se o Brasil entrasse no jogo, perderia. É quase impossível concorrer com os Estados Unidos. Só para lhe dar um detalhe micro de com quem o senhor vai lidar a partir de janeiro: a turma deles traz até uma unidade de saúde completa, pacotinhos de aspirina incluídos, para seus negociadores.
Mas, presidente, perder sem jogar não é muito mais feio?


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