São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

O filé para Lula, o osso para o PT

BRASÍLIA - O PSDB e o PFL de FHC defendem ardorosamente que o mínimo vá a R$ 240 em 2003. O PT e provavelmente o PL de Lula reagem dizendo que assim não dá, porque o impacto seria de nada modestos R$ 153 milhões na Previdência Social e de R$ 30 milhões em seguro-desemprego e que tais.
Quem te viu, quem te vê.
O PSDB e o PFL querem porque querem reduzir as alíquotas de 27,5% do Imposto de Renda e a de 9% da CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido). O PT não quer nem ouvir falar nisso. E os R$ 15 bilhões de receita, como cobrir?
Quem te viu, quem te vê.
O PSDB e o PFL, que incharam a partir de 94, estão na bica de perder parlamentares. O PT, que elegeu a maior bancada da Câmara, 91 deputados, já fala em romper a barreira dos cem. E o PL está de braços abertos a políticos de "direita" sem cacife (nem moral) para se filiar ao PT.
Quem te viu, quem te vê.
Em resumo, o PSDB e o PFL se esforçam para passar de vidraça a estilingue, e o PT começa a aprender o contrário. Não é mole.
Enquanto isso, Lula sai por aí em ritmo de Cesar Maia: é fotografado aparando a barba, empurrando cadeira de rodas, carregando bebezinhos, abraçando eleitoras, driblando jornalistas. No meio tempo, entrevistas à TV Globo e ao "Cidade Alerta", do Datena (Rede Record, da Universal).
Conclui-se: o PT vai roer o osso, enquanto Lula se esbalda com o filé. Um cai na vida real das negociações e provocações do Congresso. O outro se dedica ao contato direto com "o povo" para se fortalecer politicamente e suportar mais adiante o tranco das pressões políticas e a dureza (em duplo sentido) da economia.
Resumindo, a ordem é jogar o partido às feras e preservar o principal: o mito Lula. Até quando funciona é outra história.


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