São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TENDÊNCIAS/DEBATES Contra o foro privilegiado dos políticos ROBERTO ROMANO
O PT chega ao Palácio do Planalto
devendo muito a Plutarco, autor
que forjou os campeões da ética na qual
se inspirou a fala e o imaginário petista.
O leitor pergunta: "Por que tanto verbo para dizer coisas óbvias?". Elas o seriam, caso não tivéssemos a triste surpresa de notar, entre outras armadilhas aprontadas para a liderança petista, uma peça jurídica que subverte a base da Constituição. Refiro-me ao compromisso de instaurar o foro especial para quem exerceu o mando político e administrativo. Nem 48 horas passadas, já líderes do PT são convidados a pisotear os ideários que os levaram, inclusive no exagero moralista, à ética política. Ninguém lhes pede a virtude de heróis plutarquianos. Apenas exigimos que os valores democráticos e republicanos não sejam, tão rápido, atenuados. Milhões de votos surgem e somem. Leitura urgente, para quem dirige o partido, é o tratado de Plutarco "De como distinguir o amigo do adulador". Na hora de ascenso, os bajuladores são muitos. Mas o amigo não se ocupa em fazer carícias aos ouvidos dos que assumem o Palácio. Previne seus erros, para evitar que eles saiam dos mesmos edifícios obrigados por golpes ou pelo clamor popular. O PT foi escolhido para impedir procedimentos arrogantes dos que se julgam acima do coletivo. Ele não tem o direito de aceitar privilégio nenhum, sobretudo em matéria de Justiça. Caso o foro privilegiado se instale no seu governo, os dirigentes petistas terão anos de tormentos, porque a medida é um tapa na face dos que acreditam na democracia; é o fim da esperança de quem votou contra o medo de viver num país onde oligarcas alicerçam desigualdades. Se o PT acolher as "sugestões" do tal desaforo, que a lei grafe no proêmio: "Está abolida a forma republicana e democrática de governo no Brasil. Revoguem-se as disposições em contrário". Ou, no estilo absolutista, como os reis de França, para significar o que lhes agradava nas ordens dadas ao povo: "Tel est notre bon plaisir". Nunca se esqueça, entretanto, o destino de Luís 16. Roberto Romano, 56, filósofo, é professor titular de ética e filosofia da Unicamp. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Ricardo Noblat: Liberdade ameaçada Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
|