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SERGIO TORRES
Ninguém é de ninguém
RIO DE JANEIRO - É inacreditável o que há mais de um ano ocorre no
centro do Rio. Quase todos os dias,
camelôs e guardas municipais saem
no tapa pelas ruas. O prefeito Cesar
Maia e o secretário estadual de Segurança, Anthony Garotinho, em vez
de resolverem o problema, acusam-se
mutuamente, como é próprio de políticos profissionais. Enquanto batem
boca, a pancadaria continua.
Menos ainda tem feito a governadora Rosinha Matheus, para quem o
centro carioca parece ficar depois de
Campos, sua cidade natal, a uns 300
km de distância da capital.
O medo de ser surpreendido em
meio a pedradas, tiros e morteiros
aflige as milhares de pessoas que diariamente passam por ruas que viveram eras melhores, como as seculares
e estreitas Ouvidor e Rosário. Nelas,
hoje, ninguém é de ninguém.
Os guardas, com trajes de gladiadores, preferem as vias largas. Temem
uma emboscada, como a de 25 de setembro do ano passado, quando o colega José dos Prazeres Neto foi banhado em álcool por um camelô, que
acendeu o fósforo. Sobreviveu, mas
está desfigurado.
Com o Natal chegando, os conflitos
se agravaram. Há cinco dias, camelôs
incendiaram um carro da Guarda
Municipal. Dois infelizes que passavam ficaram feridos. Quatro guardas
também.
A ordem do prefeito é para a guarda limpar o centro. Como os cerca de
6.000 camelôs não querem perder a
fonte de renda, reagem.
Estranhíssima é a omissão da Polícia Militar, que só chega com o pânico já instalado. Distribui cacetadas
em camelôs, em transeuntes e até nos
guardas. Vai embora em seguida. No
dia seguinte, tudo recomeça.
Talvez esteja faltando um morto
para que as autoridades comecem a
pensar em soluções. A continuar como está, logo aparecerá um. Infelizmente, tudo leva a crer que vai morrer gente.
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