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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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SERGIO TORRES

Ninguém é de ninguém

RIO DE JANEIRO - É inacreditável o que há mais de um ano ocorre no centro do Rio. Quase todos os dias, camelôs e guardas municipais saem no tapa pelas ruas. O prefeito Cesar Maia e o secretário estadual de Segurança, Anthony Garotinho, em vez de resolverem o problema, acusam-se mutuamente, como é próprio de políticos profissionais. Enquanto batem boca, a pancadaria continua.
Menos ainda tem feito a governadora Rosinha Matheus, para quem o centro carioca parece ficar depois de Campos, sua cidade natal, a uns 300 km de distância da capital.
O medo de ser surpreendido em meio a pedradas, tiros e morteiros aflige as milhares de pessoas que diariamente passam por ruas que viveram eras melhores, como as seculares e estreitas Ouvidor e Rosário. Nelas, hoje, ninguém é de ninguém.
Os guardas, com trajes de gladiadores, preferem as vias largas. Temem uma emboscada, como a de 25 de setembro do ano passado, quando o colega José dos Prazeres Neto foi banhado em álcool por um camelô, que acendeu o fósforo. Sobreviveu, mas está desfigurado.
Com o Natal chegando, os conflitos se agravaram. Há cinco dias, camelôs incendiaram um carro da Guarda Municipal. Dois infelizes que passavam ficaram feridos. Quatro guardas também.
A ordem do prefeito é para a guarda limpar o centro. Como os cerca de 6.000 camelôs não querem perder a fonte de renda, reagem.
Estranhíssima é a omissão da Polícia Militar, que só chega com o pânico já instalado. Distribui cacetadas em camelôs, em transeuntes e até nos guardas. Vai embora em seguida. No dia seguinte, tudo recomeça.
Talvez esteja faltando um morto para que as autoridades comecem a pensar em soluções. A continuar como está, logo aparecerá um. Infelizmente, tudo leva a crer que vai morrer gente.


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