São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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CLOVIS ROSSI

Com a própria cabeça

SÃO PAULO - José Genoino, o presidente nacional do partido que ontem assumiu o poder no Brasil, recebe os votos de feliz Ano Novo com uma surpreendente devolução: "Nós vamos precisar. Muito".
Menos mal que ele, como outros dirigentes partidários, parece consciente de que acaba de terminar a época dos "sorrisos largos", como a definiu outro petista, Vicente Paulo da Silva, eleito deputado federal.
Agora vem a hora de transformar promessas e sonhos em realidade, o que não é nada fácil. Às vezes, amaldiçôo a minha memória e o tempo (excessivo) em que estou na estrada da reportagem. Quando Luiz Inácio Lula da Silva, já presidente empossado, convocou o brasileiro para um "mutirão" contra a fome, minha memória tocou a campainha de alerta.
Atenção, você já ouviu isso antes, gritava a campainha. Bingo. No dia 1º de janeiro de 1995, Fernando Henrique Cardoso, no mesmíssimo local e no mesmíssimo ato, também chamara a um mutirão, até mais ambicioso, "para varrer do mapa do Brasil a fome e a miséria".
Ainda há, como é óbvio, brasileiros passando fome (independentemente da discussão acadêmica sobre fome ou subnutrição). E, como ainda há miséria, promessas de discursos de campanha ou de posse, por bonitas que sejam, já não me comovem.
Claro que Lula não está condenado a repetir Fernando Henrique -nem no certo nem no errado.
Menos mal também que o presidente, lá pelo fim do discurso, tocou numa tecla que talvez não vá para as manchetes nem seja muito notada, mas que parece muito apropriada: o Brasil "terá de pensar com a sua cabeça, andar com as suas próprias pernas, ouvir o que diz seu coração".
Sempre há o risco de que se tente reinventar a roda, para citar o ex-presidente, mas há pelo menos uma chance de parar de macaquear idéias e teses que já vêm prontas do mundo rico, mas nem sempre são aplicáveis universalmente. A conferir.


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