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CLOVIS ROSSI
Com a própria cabeça
SÃO PAULO - José Genoino, o presidente nacional do partido que ontem assumiu o poder no Brasil, recebe os votos de feliz Ano Novo com uma surpreendente devolução: "Nós vamos
precisar. Muito".
Menos mal que ele, como outros dirigentes partidários, parece consciente de que acaba de terminar a época
dos "sorrisos largos", como a definiu
outro petista, Vicente Paulo da Silva,
eleito deputado federal.
Agora vem a hora de transformar
promessas e sonhos em realidade, o
que não é nada fácil. Às vezes, amaldiçôo a minha memória e o tempo
(excessivo) em que estou na estrada
da reportagem. Quando Luiz Inácio
Lula da Silva, já presidente empossado, convocou o brasileiro para um
"mutirão" contra a fome, minha memória tocou a campainha de alerta.
Atenção, você já ouviu isso antes,
gritava a campainha. Bingo. No dia
1º de janeiro de 1995, Fernando Henrique Cardoso, no mesmíssimo local e
no mesmíssimo ato, também chamara a um mutirão, até mais ambicioso,
"para varrer do mapa do Brasil a fome e a miséria".
Ainda há, como é óbvio, brasileiros
passando fome (independentemente
da discussão acadêmica sobre fome
ou subnutrição). E, como ainda há
miséria, promessas de discursos de
campanha ou de posse, por bonitas
que sejam, já não me comovem.
Claro que Lula não está condenado
a repetir Fernando Henrique -nem
no certo nem no errado.
Menos mal também que o presidente, lá pelo fim do discurso, tocou
numa tecla que talvez não vá para as
manchetes nem seja muito notada,
mas que parece muito apropriada: o
Brasil "terá de pensar com a sua cabeça, andar com as suas próprias pernas, ouvir o que diz seu coração".
Sempre há o risco de que se tente
reinventar a roda, para citar o ex-presidente, mas há pelo menos uma
chance de parar de macaquear idéias
e teses que já vêm prontas do mundo
rico, mas nem sempre são aplicáveis
universalmente. A conferir.
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