São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

A Lula o que é de Lula

BRASÍLIA - A expectativa está criada, e a sorte está lançada. Luiz Inácio Lula da Silva é o 39º presidente da República do Brasil e veio para mudar. Mudar principalmente o quadro de miséria absoluta e garantir que milhões de brasileiros passem a comer três vezes por dia.
Por mais que Lula e o PT tenham feito todos os salamaleques de uma transição pacífica e elegante, o governo que se instalou oficialmente ontem, para quatro anos, com direito à reeleição, não tem alternativa: é mudar ou mudar o perfil social do país.
O discurso de Lula no Congresso, apesar de longuíssimo (teve mais de meia hora), soou tão protocolar quanto o de qualquer outro presidente. Cairia bem na boca de Tancredo/ Sarney, de Collor, de FHC. Teve até o lema do tucano José Serra durante a campanha presidencial: "Obsessão pelo emprego".
Talvez o discurso de ontem mais impregnado de Lula e de PT tenha sido o do novo presidente no Parlatório de mármore do Palácio do Planalto, dirigido aos milhões de brasileiros que assistiram à posse pelas televisões e, mais diretamente ainda, aos milhares que coloriam de vermelho a praça dos Três Poderes.
Lula foi Lula. Citou Marisa, sua mulher, disse que pretende tratar "cada brasileiro" com o respeito que dedica a seus filhos e a seus netos, citou o direito à comida como compromissos da Bíblia, da Constituição e da Declaração dos Direitos da Pessoa Humana. E se disse "o homem mais otimista da face da Terra".
Agora é arregaçar as mangas e trabalhar. Como disse Lula no Planalto, hoje, dia 2 de janeiro de 2003, "é o primeiro dia de combate à fome". As condições internacionais, os indicadores da economia, as margens de manobra do Orçamento indicam prudência. Mas Lula e o PT não têm como usar nada disso como pretexto para não mudar o quadro social, para não alterar o quadro miserável de distribuição de renda. É isso que se espera deles. E, cá para nós, se conseguirem, o resto todo a gente releva.
Boa sorte!


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