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ELIANE CANTANHÊDE
A Lula o que é de Lula
BRASÍLIA - A expectativa está criada, e a sorte está lançada. Luiz Inácio
Lula da Silva é o 39º presidente da
República do Brasil e veio para mudar. Mudar principalmente o quadro
de miséria absoluta e garantir que
milhões de brasileiros passem a comer três vezes por dia.
Por mais que Lula e o PT tenham
feito todos os salamaleques de uma
transição pacífica e elegante, o governo que se instalou oficialmente ontem, para quatro anos, com direito à
reeleição, não tem alternativa: é mudar ou mudar o perfil social do país.
O discurso de Lula no Congresso,
apesar de longuíssimo (teve mais de
meia hora), soou tão protocolar
quanto o de qualquer outro presidente. Cairia bem na boca de Tancredo/
Sarney, de Collor, de FHC. Teve até o
lema do tucano José Serra durante a
campanha presidencial: "Obsessão
pelo emprego".
Talvez o discurso de ontem mais
impregnado de Lula e de PT tenha sido o do novo presidente no Parlatório de mármore do Palácio do Planalto, dirigido aos milhões de brasileiros que assistiram à posse pelas televisões e, mais diretamente ainda,
aos milhares que coloriam de vermelho a praça dos Três Poderes.
Lula foi Lula. Citou Marisa, sua
mulher, disse que pretende tratar
"cada brasileiro" com o respeito que
dedica a seus filhos e a seus netos, citou o direito à comida como compromissos da Bíblia, da Constituição e
da Declaração dos Direitos da Pessoa
Humana. E se disse "o homem mais
otimista da face da Terra".
Agora é arregaçar as mangas e trabalhar. Como disse Lula no Planalto,
hoje, dia 2 de janeiro de 2003, "é o
primeiro dia de combate à fome". As
condições internacionais, os indicadores da economia, as margens de
manobra do Orçamento indicam
prudência. Mas Lula e o PT não têm
como usar nada disso como pretexto
para não mudar o quadro social, para não alterar o quadro miserável de
distribuição de renda. É isso que se
espera deles. E, cá para nós, se conseguirem, o resto todo a gente releva.
Boa sorte!
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