São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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MÁRIO MAGALHÃES

Desafios do jornalismo

RIO DE JANEIRO - O impacto mais forte da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva no jornalismo brasileiro foi a derrota, pela primeira vez desde a redemocratização, do candidato predileto das empresas de mídia. Elas queriam Tancredo em 1985, Collor em 89, FHC em 94 e 98, Serra em 2002.
Por outro lado, num fenômeno igualmente significativo, nunca o favorito dos jornalistas tinha triunfado após a reintrodução das diretas em 89. A maioria sempre foi Lula.
As opções distintas têm produzido menos aberrações. Não se viu mais edição de debate como a da TV Globo de 89, apesar do partidarismo, hoje mais sofisticado, de muitos órgãos jornalísticos. Também sucumbiu a falta de compostura de repórteres a ostentar broches do PT e a cantarolar jingles como em 89. Em 2002, este repórter testemunhou apenas um profissional com distintivo na lapela e ouviu um único relato sobre alguns a se embalar em palanque petista com músicas de campanha.
Na transição, a interferência editorial em certas coberturas gerou a louvação de cada medida anunciada pelos futuros governantes -em que o conteúdo mais se assemelhava ao PSDB do que àqueles que antes acenavam com mudanças sinceras.
Quanto menor (ou nenhuma) a mudança, maior o elogio a Lula. O que pode sinalizar que, no governo, quanto maior a mudança, maior a antipatia no tratamento aos novos ocupantes do Planalto.
Os jornalistas experimentam uma reviravolta ensaiada nas gestões municipais e estaduais do PT. Por 20 anos, suas fontes para apurar desmandos na coisa pública era a oposição petista. Na inversão de papéis, é débil o monitoramento das administrações do partido. Pouco se sabe do financiamento das campanhas.
Com Lula, os desafios do jornalismo mudam na forma, não no conteúdo. Renova-se a exigência de distinguir opinião e reportagem. Criticismo e independência mantêm-se condição para não se reduzir a arauto do governo ou dos que vierem a ter interesses contrariados. Agora, como antes, a missão da imprensa é fiscalizar o poder. Tenha ele um tucano ou uma estrela como símbolo.


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