|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Sem tapioca
NÃO FOSSE pelo que se gastou em locadoras de automóveis e num free shop,
pouca gente estaria hoje informada de que existe, no Brasil,
uma secretaria da Igualdade Racial com status de ministério.
Do mesmo modo, despesas irregulares numa churrascaria fizeram com que a pasta da Pesca
desse finalmente à opinião pública os ares de sua graça.
Ainda não se inventou o Ministério dos Paladares Regionais,
mas o impensado consumo de
uma tapioca pelo ministro dos
Esportes terá ao menos contribuído para divulgar as atrações
irresistíveis do quitute -que não
vinha merecendo do presidente
Lula tratamento tão privilegiado
quanto o concedido, num discurso recente, ao bom e velho caju.
Sai de cena, depois de um período de férias em que seu cartão
corporativo não conheceu descanso, a ministra Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial. Fica vago, com isso, um ministério vazio; o afastamento da ministra
assim reequilibra a situação, para nada dizer do microscópico
orçamento da pasta.
O governo Lula reagiu em boa
hora a uma nova fonte de desgaste político. Ainda que falte substância -e sobrem riscos de ridículo- à proposta de "CPI da tapioca", lançada pela oposição, os
abusos com os cartões corporativos certamente acentuam a imagem de descontrole e de aproveitamento que contamina, não
apenas no plano federal, os ocupantes do poder público no país.
Mas não basta, como fez o governo, estabelecer critérios mais
rigorosos na utilização dos cartões e nas "contas B", que possibilitam a emissão de cheques para gastos emergenciais e com
diárias de viagem. A desmoralização só se evita se a atitude pessoal das autoridades nessa rubrica -passível de acompanhamento pela internet- não der margem a nenhum mal-estar. O que
talvez seja difícil, com tantos bares e churrascarias por perto.
Texto Anterior: Editoriais: Justiça mais simples Próximo Texto: Liubliana - Clóvis Rossi: Gastava bem a ex-ministra Índice
|