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MELCHIADES FILHO
Temporão e o vento
BRASÍLIA - "Enorme especulação", "exagero midiático", "histeria
coletiva" e expressões similares pipocaram nas declarações da cúpula
da Saúde sobre o surto de febre
amarela enquanto o governo corria
para imunizar os ministros e fumegar a Granja do Torto -e não para
cuidar das internações, distribuir a
vacina e fazer os esclarecimentos
necessários à população.
Os casos de dengue também explodiram, de 345 mil para 560 mil
em um ano. O ministério de novo
sugeriu culpa do brasileiro: pobre,
desinformado e pouco cidadão.
Até agora não houve explicação
convincente para a arrancada da
rubéola, de 1,6 mil a 6,9 mil casos
entre 2006 e 2007, que arruinou os
avanços do primeiro mandato.
Os engasgos do SUS? O doente
que sofre no leito -e para conseguir
deitar num? Tampouco encabeçam
as atenções dessa administração.
A prioridade até aqui foi lançar
debates sobre aborto, álcool, camisinha etc. Temas pertinentes, mas
que, por sua natureza, dependem
justamente do "exagero midiático"
considerado inconveniente no "case" febre amarela. A discussão de
fundo sobre a responsabilidade pelo consumo de drogas saiu de cartaz
com a "Tropa de Elite", reparou?
Em vez de questionar a "plataforma" de Edison Lobão, uma ala do
governo há dias reclama da nomeação do senador maranhense por se
tratar de um político de carreira,
sem erudição sobre os assuntos do
Ministério de Minas e Energia.
(Um discurso, aliás, que indiretamente endossa críticas a Lula.)
Mas e José Gomes Temporão? O
ministro mais "técnico" de todos, o
médico sério com currículo de realizações, disse nesta semana que
seu maior feito em um ano no cargo
foi ter... "repolitizado" a saúde.
Para Temporão, "a relação entre
saúde e mídia é um campo apaixonante". As oportunidades de comunicação devem ser aproveitadas,
claro. Mas o país ganharia se ele
abrisse o coração também a urgências que não dão manchete.
mfilho@folhasp.com.br
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