São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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MELCHIADES FILHO

Temporão e o vento

BRASÍLIA - "Enorme especulação", "exagero midiático", "histeria coletiva" e expressões similares pipocaram nas declarações da cúpula da Saúde sobre o surto de febre amarela enquanto o governo corria para imunizar os ministros e fumegar a Granja do Torto -e não para cuidar das internações, distribuir a vacina e fazer os esclarecimentos necessários à população.
Os casos de dengue também explodiram, de 345 mil para 560 mil em um ano. O ministério de novo sugeriu culpa do brasileiro: pobre, desinformado e pouco cidadão.
Até agora não houve explicação convincente para a arrancada da rubéola, de 1,6 mil a 6,9 mil casos entre 2006 e 2007, que arruinou os avanços do primeiro mandato.
Os engasgos do SUS? O doente que sofre no leito -e para conseguir deitar num? Tampouco encabeçam as atenções dessa administração.
A prioridade até aqui foi lançar debates sobre aborto, álcool, camisinha etc. Temas pertinentes, mas que, por sua natureza, dependem justamente do "exagero midiático" considerado inconveniente no "case" febre amarela. A discussão de fundo sobre a responsabilidade pelo consumo de drogas saiu de cartaz com a "Tropa de Elite", reparou?
Em vez de questionar a "plataforma" de Edison Lobão, uma ala do governo há dias reclama da nomeação do senador maranhense por se tratar de um político de carreira, sem erudição sobre os assuntos do Ministério de Minas e Energia.
(Um discurso, aliás, que indiretamente endossa críticas a Lula.) Mas e José Gomes Temporão? O ministro mais "técnico" de todos, o médico sério com currículo de realizações, disse nesta semana que seu maior feito em um ano no cargo foi ter... "repolitizado" a saúde.
Para Temporão, "a relação entre saúde e mídia é um campo apaixonante". As oportunidades de comunicação devem ser aproveitadas, claro. Mas o país ganharia se ele abrisse o coração também a urgências que não dão manchete.


mfilho@folhasp.com.br


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