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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Guerra é guerra

BRASÍLIA - "Discurso" de um paulistano de classe média, na quinta-feira, ao tomar café da manhã numa padaria do aprazível bairro de Higienópolis: "Esses tucanos são uns bananas. Os caras tentaram empurrar o Fernandinho Beira-Mar para Brasília, para todo o canto, e até para o Acre. E nem lá aceitaram o Beira-Mar. Mas o Alckmin quis ser bonzinho. Isso aqui vai acabar igualzinho ao Rio".
Ledo engano. Já está tudo "igualzinho". O Rio é a ponta mais visível, mas o problema é nacional, até com rodízio de bandidos sanguinários entre governadores. Rosinha Matheus manda o dela para Alckmin, que despacha o seu para Germano Rigotto (RS), que embarca o dele para, quem sabe, Jorge Viana (AC). E o crime continua na folia, rindo da cara de todo mundo. Inclusive da nossa.
É bem verdade que Lula destacou o trator José Dirceu para pessoalmente botar o dedo do governo federal na ferida do Rio e do Espírito Santo (o governador Hartung, aliás, mandou o "seu" bandidão para o Acre). Já há 3.000 homens do Exército no Rio para o Carnaval, e o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) anuncia cinco novos presídios federais.
O Planalto agiu rápido, e os governadores estão se entendendo. São ações de emergência e parecem um bom começo. O que se espera, agora, são medidas estratégicas e duradouras contra a violência e a crise de autoridade que se espalham assustadoramente pelo país inteiro.
Desbaratar as quadrilhas, desarmar os bandidos, prender quem lhes vende as armas, reestruturar as polícias e reeducar os policiais são necessidades óbvias. De difícil execução, mas não impossíveis. Até lá, Beira-Mar não pode voltar para o Rio, nem o Exército para casa.
As Forças Armadas "destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem" (artigo 142 da Constituição).
E o que ocorre hoje, especificamente no Rio, apesar de não só ali, senão uma profunda ameaça aos poderes constitucionais, à lei e à ordem?


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