São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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DRAMA HAITIANO

A renúncia de Jean-Bertrand Aristide à Presidência do Haiti e a nova intervenção internacional demonstram a incapacidade do Ocidente de conduzir um plano de democratização de um país sem maiores interesses estratégicos -como reservas de petróleo.
A crise haitiana não começou com a revolta conduzida por grupos de bandoleiros que teve início há pouco mais de três semanas. Sem recuar muito na história, os piores equívocos ocorrem após a intervenção norte-americana de 1994, que restituiu o poder ao presidente Aristide, que fora eleito em 1991, mas rapidamente derrubado por um golpe militar. A ajuda econômica então prometida por EUA, França e outras potências não se materializou, o que foi determinante para lançar o ex-presidente na rota de abusos que acabaria por derrubá-lo do poder.
É claro que o maior responsável pela queda de Aristide ainda é o próprio Aristide, mas não se devem menosprezar os ingredientes externos da crise haitiana. Antes tido como um campeão da democracia, o ex-padre que pregava contra a exclusão social e parecia imbuído dos mais elevados princípios morais acabou se tornando um tirano em nada diferente dos que o antecederam no país mais miserável do hemisfério ocidental.
Aristide é acusado, entre várias faltas, de ter fraudado eleições e governado autocraticamente, recorrendo ao apoio de esquadrões da morte e traficantes de drogas. Se quisermos, sua trajetória constitui um exemplo clássico da máxima segundo a qual o poder inevitavelmente corrompe.
Um envolvimento maior do Ocidente com o país que já foi uma das mais ricas colônias das Américas talvez pudesse ter evitado a deterioração da administração de Aristide e seu ocaso. Diante da tibieza das instituições haitianas e da onipresente miséria, é de esperar que desta feita as movimentações internacionais venham acompanhadas de um plano de apoio que ajude a tornar o país minimamente estável.


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