São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Ucrânia, Líbano, Brasil

ROMA - A Ucrânia jamais conheceu a democracia. Passou diretamente da mão dura do czarismo para a mão dura do comunismo. Ainda por cima, quando o comunismo morreu, os comunistas se reciclaram, mas esqueceram de reciclar também a mão, que continuou dura.
Era, pois, um dos mais improváveis países para ver nascer um movimento popular de massa. Viu. No ano passado, a massa na rua fez anular uma eleição obviamente fraudada, com o que provocou uma nova eleição e a conseqüente vitória do candidato preferido pela maioria.
O Líbano é um país ocupado militarmente por forças estrangeiras e que guarda na memória o trauma profundo de uma guerra civil bastante recente.
Era, pois, outro país improvável para ver surgir uma revolta popular. Viu, anteontem. De novo, a massa na rua derrubou o primeiro-ministro. Resta o presidente, mas pode apostar: ou vai sair logo, logo, ou vai ele próprio conduzir o processo de retirada das tropas sírias e de normalização institucional.
Enquanto isso, no Brasil, o único movimento de massa que se conhece é o dos e-mails indignados aos amigos ou aos jornais. Sua gente reclama do escândalo que é o pouco-caso e o pouco trabalho da grande maioria dos parlamentares, que, não obstante, têm a cara-de-pau de aumentar seus salários.
Reclama também do governo, que não cansa de aumentar impostos, sem dar a mínima contrapartida seja em serviços públicos seja em investimentos que permitam um funcionamento mais eficiente da economia e da própria vida.
Reclama de muito mais coisas, mas fico apenas nas duas mais recentes ondas de revolta que sacudiram o correio eletrônico.
Mas ninguém, que se note, tira a bunda da cadeira. Não, não estou pregando a derrubada do governo, que tem a legitimidade que os dois outros anteriormente citados não tinham. Mas que um comportamento algo menos manso, menos bovino, ajudaria, lá isso ajudaria.


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