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CLÓVIS ROSSI
Ucrânia, Líbano, Brasil
ROMA - A Ucrânia jamais conheceu a democracia. Passou diretamente da
mão dura do czarismo para a mão
dura do comunismo. Ainda por cima, quando o comunismo morreu, os
comunistas se reciclaram, mas esqueceram de reciclar também a mão,
que continuou dura.
Era, pois, um dos mais improváveis
países para ver nascer um movimento popular de massa. Viu. No ano
passado, a massa na rua fez anular
uma eleição obviamente fraudada,
com o que provocou uma nova eleição e a conseqüente vitória do candidato preferido pela maioria.
O Líbano é um país ocupado militarmente por forças estrangeiras e
que guarda na memória o trauma
profundo de uma guerra civil bastante recente.
Era, pois, outro país improvável para ver surgir uma revolta popular.
Viu, anteontem. De novo, a massa na
rua derrubou o primeiro-ministro.
Resta o presidente, mas pode apostar:
ou vai sair logo, logo, ou vai ele próprio conduzir o processo de retirada
das tropas sírias e de normalização
institucional.
Enquanto isso, no Brasil, o único
movimento de massa que se conhece
é o dos e-mails indignados aos amigos ou aos jornais. Sua gente reclama
do escândalo que é o pouco-caso e o
pouco trabalho da grande maioria
dos parlamentares, que, não obstante, têm a cara-de-pau de aumentar
seus salários.
Reclama também do governo, que
não cansa de aumentar impostos,
sem dar a mínima contrapartida seja
em serviços públicos seja em investimentos que permitam um funcionamento mais eficiente da economia e
da própria vida.
Reclama de muito mais coisas, mas
fico apenas nas duas mais recentes
ondas de revolta que sacudiram o
correio eletrônico.
Mas ninguém, que se note, tira a
bunda da cadeira. Não, não estou
pregando a derrubada do governo,
que tem a legitimidade que os dois
outros anteriormente citados não tinham. Mas que um comportamento
algo menos manso, menos bovino,
ajudaria, lá isso ajudaria.
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