São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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FERNANDO RODRIGUES

Iguais

BRASÍLIA - O aumento dos salários dos deputados e o PSDB e o PFL sugerindo o impeachment de Lula são dois episódios distintos. Mas a reação a eles mostra como os partidos grandes estão num avançado processo de "similarização".
No caso do aumento salarial, deputados querem se autoconceder um reajuste de 67%. Os vencimentos pulam de R$ 12,8 mil para R$ 21,5 mil. Injustificável sob qualquer ângulo, o projeto vem sendo torpedeado pelas cúpulas partidárias.
O PT fechou questão. Vai votar contra. Mas não fará campanha nacional nem ameaça com placares em praças públicas apontando os nomes dos traidores da pátria. Outros tempos. No fundo, há petistas que votarão contra torcendo para o aumento ser aprovado. Ontem o PFL entrou na ciranda da hipocrisia. O presidente nacional da sigla, senador Jorge Bornhausen (SC), anunciou: "Vamos recomendar aos parlamentares das nossas bancadas o voto contra o aumento de 67%".
"Recomendar"? Em resumo, vão dizer: "Olhe, é bom você votar contra". Se votar a favor, nada acontece. A vida continua. O mais fascinante é que o PFL até convocou a imprensa ontem para divulgar essa sua valente e corajosa decisão.
Hoje os pefelistas aplaudem a sugestão de impeachment para Lula feita pelo PSDB. Em 26 de maio de 1999, o PFL soltou nota oficial acusando o PT de "golpismo" por pedir o impeachment de FHC por causa de suspeitas na venda da Telebrás.
Adepto do ataque frontal ao Planalto em 1999, José Genoino reclamava dos pefelistas e dos tucanos, que impediam, à época, a CPI da Privatização: "Está difícil. Estamos enfrentando a operação abafa". Agora, quem abafa é Lula.
FHC não sofreu impeachment em 1999. Lula certamente escapará. Quem fica sem saída são os eleitores. Está difícil escolher um partido. Estão mais iguais do que nunca.


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