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FERNANDO RODRIGUES
Iguais
BRASÍLIA - O aumento dos salários dos deputados e o PSDB e o PFL sugerindo o impeachment de Lula são
dois episódios distintos. Mas a reação
a eles mostra como os partidos grandes estão num avançado processo de
"similarização".
No caso do aumento salarial, deputados querem se autoconceder um
reajuste de 67%. Os vencimentos pulam de R$ 12,8 mil para R$ 21,5 mil.
Injustificável sob qualquer ângulo, o
projeto vem sendo torpedeado pelas
cúpulas partidárias.
O PT fechou questão. Vai votar
contra. Mas não fará campanha nacional nem ameaça com placares em
praças públicas apontando os nomes
dos traidores da pátria. Outros tempos. No fundo, há petistas que votarão contra torcendo para o aumento
ser aprovado. Ontem o PFL entrou
na ciranda da hipocrisia. O presidente nacional da sigla, senador Jorge
Bornhausen (SC), anunciou: "Vamos
recomendar aos parlamentares das
nossas bancadas o voto contra o aumento de 67%".
"Recomendar"? Em resumo, vão
dizer: "Olhe, é bom você votar contra". Se votar a favor, nada acontece.
A vida continua. O mais fascinante é
que o PFL até convocou a imprensa
ontem para divulgar essa sua valente
e corajosa decisão.
Hoje os pefelistas aplaudem a sugestão de impeachment para Lula
feita pelo PSDB. Em 26 de maio de
1999, o PFL soltou nota oficial acusando o PT de "golpismo" por pedir o
impeachment de FHC por causa de
suspeitas na venda da Telebrás.
Adepto do ataque frontal ao Planalto em 1999, José Genoino reclamava dos pefelistas e dos tucanos, que
impediam, à época, a CPI da Privatização: "Está difícil. Estamos enfrentando a operação abafa". Agora,
quem abafa é Lula.
FHC não sofreu impeachment em
1999. Lula certamente escapará.
Quem fica sem saída são os eleitores.
Está difícil escolher um partido. Estão
mais iguais do que nunca.
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