São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003 |
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VALDO CRUZ Sem vergonha
BRASÍLIA -
Vamos ter de passar muita vergonha, não há outra saída. Assim resumiu um petista moderado ao
final de um dia em que o governo Lula, mais uma vez, assumiu uma posição combatida no passado.
Foi no anúncio do novo salário mínimo. Enquanto Lula divulgava os
R$ 240,00 "possíveis", com o apoio
envergonhado de alguns sindicalistas, o PSDB e o PFL se divertiam defendendo um aumento maior.
Tucanos e pefelistas subiram à tribuna do Congresso para dar o troco.
No governo FHC, sofreram com discursos petistas atacando aumentos
irrisórios do salário mínimo e defendendo um valor igual a US$ 100 -o
de Lula vale só US$ 72,40.
Agora, já que é para passar vergonha, o PT poderia admitir publicamente que estava enganado quando
dizia que o tal de mercado impõe as
reformas, os juros altos, o superávit
das contas públicas, o mínimo irrisório, a contribuição dos inativos.
O mercado não impõe nada. Até
tenta, pressiona, mas é o governo de
plantão que se submete ou não aos
desejos do mercado. Talvez agora, na
condição de governo, o PT tenha descoberto até mesmo que não é caso de
submissão, mas de necessidade.
Afinal, quem deve tem de pagar. E
só paga se economizar. Para economizar, só tapando o rombo das suas
contas. Para tapar, tem de arranjar
dinheiro. Aí precisa das reformas.
Pode se optar por rumo alternativo.
Mas o PT, ao subir juros, elevar o superávit e priorizar reformas, parece
ter optado pelo que antes chamava
de caminho do mercado. Que vergonha, hein? Diria que mais vergonha
pelo passado do que pelo presente.
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