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São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Na zona do agrião

RIO DE JANEIRO - Qualquer que seja o desdobramento da guerra no Iraque, o seu desfecho parece definido: o mais forte vencerá o mais fraco -e até aí morreu Neves.
Mas desde já podemos chegar a algumas constatações que não podem ser desmentidas nem pelo presidente Bush nem pelos seus assessores mais próximos.
Se é inquestionável a supremacia tecnológica dos Estados Unidos, fruto dos recursos de inteligência e criatividade de alguns dos melhores talentos da indústria e da técnica de todo o mundo, atraídos pela estrutura econômica da hegemonia norte-americana, o elemento humano, em si, é confuso e ingênuo, ou ingenuamente confuso.
Já se sabe que a ordem para iniciar os bombardeios sobre Bagdá, uma hora e 15 minutos após o prazo dado a Saddam para abandonar o governo e o país, foi monitorada pela CIA, que, infiltrada em diversos escalões da Guarda Nacional, a tropa mais fiel ao ditador, garantia que o primeiro tiro acabaria com o problema. Saddam não escaparia com vida.
Nas primeiras horas do conflito, aliás, divulgou-se a notícia de que ele estaria morto, que um sósia aparecia na TV iraquiana por ele e que fora visto na maca de uma ambulância em estado terminal.
Durante todo o primeiro dia do conflito, a tônica dos pronunciamentos do Departamento de Estado, do Pentágono e da Casa Branca era propositadamente evasiva, na base do "não se sabe ainda se o ditador está morto".
Tal era a certeza na logística do primeiro disparo, tecnologicamente possível, sem dúvida. Além disso, os Estados Unidos foram obrigados, uma semana depois, a enviar mais 100 mil soldados para o Iraque e a solicitar novos créditos ao Congresso para pagar a fatura que aumenta a cada dia.
Em tempo: grande parte dos soldados norte-americanos que estão na zona do agrião são de origem latina. Estão pagando com a vida o "green card" penosamente obtido.


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