São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

Cizânia no Planalto

BRASÍLIA - Um Palácio do Planalto em harmonia é meio caminho para um presidente da República sofrer menos. Não é o caso de Lula.
O que José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) falam um do outro é um assombro.
A razão é simples: uma clássica, boa e velha disputa de poder.
Desde o final de 2003, Lula se convenceu de que o acúmulo de funções com Dirceu não era bom. Nomeou Aldo em janeiro para comandar o balcão político do Planalto -a fonte real de poder no governo, pois é daí que saem as verbas e os cargos. Menos de um mês depois, veio o Waldogate. José Dirceu virou, como se diz na tradução da terminologia política inglesa, um pato manco.
Ocorre que esse não é um pato manco qualquer. Pode-se ter a pior impressão do estilo stalinista de Dirceu, mas é inegável o seu papel central na eleição de Lula em 2002. O ministro-chefe da Casa Civil foi um dos principais artífices da organização profissional do PT e da guinada da sigla ao centro -quase perdendo a identidade original, mas pavimentando o caminho para o êxito do despolitizado Lulinha paz e amor.
Dirceu aparelhou o PT para tomar o poder. Tomou. Há um exército de dirceusistas silenciosos no PT.
Aldo Rebelo, do seu lado, é um aliado de longa data de Lula. O seu partido, o PC do B, segurou a alça do caixão de várias candidaturas fracassadas do atual presidente da República. Além disso, Aldo dedica a Lula uma fidelidade quase canina e serve para oxigenar o governo: abre a administração para outras frentes excluídas do "mundo maravilhoso dos petistas que dão parte do salário para construir o partido".
A disputa entre Aldo Rebelo e José Dirceu é o tipo de jogo cujo resultado nunca é empate. Alguém perde. A incógnita é como será a reação do perdedor e de seus aliados nessa batalha -que tem uma arquibancada lotada de torcedores importantes.


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