São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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CLAUDIA ANTUNES

A politicagem que mata

RIO DE JANEIRO - Com todos os problemas da casa de custódia de Benfica, a começar pela ausência de licitação para sua construção, não é possível apontar o governo do Estado como o único culpado pela rebelião que terminou na noite de segunda-feira, depois da chacina de pelo menos 30 presos e do assassinato de um agente.
A corrupção que permitiu a entrada de armas na prisão, a disputa entre facções criminosas e a disposição de mutilar e queimar outros homens, quando algozes e assassinados estão no mesmo limbo da sociedade, são problemas que antecedem ou transcendem a atual administração, mesmo quando agravados por ela.
O que realmente incomoda no comportamento do governo estadual é a falta de transparência, o hábito recorrente de dar as costas ao imperativo de prestar contas, acima de conveniências político-eleitorais.
No domingo, Rosinha e seu marido, o secretário de Segurança, Garotinho, saíram da igreja pela porta dos fundos para não serem vistos. Como já havia acontecido durante a guerra do tráfico na Rocinha, o casal preferiu não mostrar o rosto até, quem sabe, encontrar um factóide que supostamente possa livrá-lo do desgaste -no caso da Rocinha, foi o pedido de tropas às Forças Armadas.
Ao longo da segunda-feira, deu-se um jogo de empurra entre a Secretaria de Segurança e a de Administração Penitenciária. Esta afirmava que a primeira assumira o comando das negociações com os rebelados. Aquela dizia que a segunda continuava encarregada do caso. Um pastor de confiança de presos do Comando Vermelho foi levado à prisão sem que sua presença fosse explicada.
À noite, quando os mortos começaram a ser contados, defensores públicos foram proibidos de entrar na carceragem e denunciaram o rompimento de um acordo feito com a PM -o governo não queria imagens. Falava-se já em mais de 30 mortos, mas ninguém confirmava. Os corpos foram espalhados por vários IMLs. Parentes de presos passaram outra madrugada de angústia, desinformados.


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