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CLAUDIA ANTUNES
A politicagem que mata
RIO DE JANEIRO - Com todos os problemas da casa de custódia de Benfica, a começar pela ausência de licitação para sua construção, não é possível apontar o governo do Estado como o único culpado pela rebelião que
terminou na noite de segunda-feira,
depois da chacina de pelo menos 30
presos e do assassinato de um agente.
A corrupção que permitiu a entrada de armas na prisão, a disputa entre facções criminosas e a disposição
de mutilar e queimar outros homens,
quando algozes e assassinados estão
no mesmo limbo da sociedade, são
problemas que antecedem ou transcendem a atual administração, mesmo quando agravados por ela.
O que realmente incomoda no
comportamento do governo estadual
é a falta de transparência, o hábito
recorrente de dar as costas ao imperativo de prestar contas, acima de
conveniências político-eleitorais.
No domingo, Rosinha e seu marido,
o secretário de Segurança, Garotinho, saíram da igreja pela porta dos
fundos para não serem vistos. Como
já havia acontecido durante a guerra
do tráfico na Rocinha, o casal preferiu não mostrar o rosto até, quem sabe, encontrar um factóide que supostamente possa livrá-lo do desgaste
-no caso da Rocinha, foi o pedido
de tropas às Forças Armadas.
Ao longo da segunda-feira, deu-se
um jogo de empurra entre a Secretaria de Segurança e a de Administração Penitenciária. Esta afirmava que
a primeira assumira o comando das
negociações com os rebelados. Aquela dizia que a segunda continuava
encarregada do caso. Um pastor de
confiança de presos do Comando
Vermelho foi levado à prisão sem que
sua presença fosse explicada.
À noite, quando os mortos começaram a ser contados, defensores públicos foram proibidos de entrar na carceragem e denunciaram o rompimento de um acordo feito com a PM
-o governo não queria imagens. Falava-se já em mais de 30 mortos, mas
ninguém confirmava. Os corpos foram espalhados por vários IMLs. Parentes de presos passaram outra madrugada de angústia, desinformados.
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