São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

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VINICIUS TORRES FREIRE

Quem mexeu no meu contrato?

SÃO PAULO - A gente vai a uma padaria, pede um pão francês e, em troca de uns 25 centavos, o padeiro entrega um objeto reconhecível como um pãozinho. Se a gente não gosta do pão, troca de padaria: existe um mercado de pães. É um negócio basicamente honesto. No caso de plano de saúde, banco, teles, aviação e de outros cartéis e/ou oligopólios, em troca de dinheiro você só consegue um direito virtual de receber o que pagou.
Os reizinhos do Banco Central nos deixam à sanha de seus ex ou futuros patrões, os banqueiros, os quais deviam fiscalizar. Como outros mercadistas, enchem a boca para pedir "cumprimento de contratos", o fim da "incerteza jurisdicional" etc. Mas os contratos de oligopólios com o cliente comum valem tanto quanto promessas do petismo-lulismo.
Em julho, mês de férias e de aviões lotados no mundo inteiro, a empresa pela qual viajava vendeu passagens demais, por dias. É o velho "overbooking", como chamam o negócio, um estelionato consuetudinário.
Precisei usar meu número de celular na França (celular, aliás, clonado quatro vezes em três meses). Cobram os olhos da cara e três dentes pelo serviço, mas minhas ligações caíam no telefone de uma Vera, na Itália. Como soube? O banco em que tenho conta, que havia feito besteira, tentava me ligar e caía na Vera, na Itália.
Não há mercado de bancos ou teles. Não se troca de teles ou banco como de padaria. De resto, o atendimento é mefítico em qualquer parte do cartel, mesmo nos serviços "exclusivos" com nomes estrangeiros ridículos, Personalité, Class, Van Gogh, Francis Bacon, Dalí ou o raio que os parta.
Reclamar? Você cai no 0800: um pobre diabo repete uma algaravia a fim de enrolar, fazer a gente desistir ou trabalhar para eles. "Senhor, onde foi emitido o PQT do PTA do bilhete, senhor?" "Senhor, o sinistro da TED foi estornado para o quinto dos infernos, o senhor vai ter de estar indo lá para desbloquear, senhor."
Alguém já viu anúncio oficial com o telefone de agência reguladora, para a gente dar queixa? Não. Aliás, as agências funcionam? Não.



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