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VINICIUS TORRES FREIRE
Quem mexeu no meu contrato?
SÃO PAULO - A gente vai a uma padaria, pede um pão francês e, em troca de uns 25 centavos, o padeiro entrega um objeto reconhecível como um pãozinho. Se a gente não gosta do
pão, troca de padaria: existe um mercado de pães. É um negócio basicamente honesto. No caso de plano de
saúde, banco, teles, aviação e de outros cartéis e/ou oligopólios, em troca
de dinheiro você só consegue um direito virtual de receber o que pagou.
Os reizinhos do Banco Central nos
deixam à sanha de seus ex ou futuros
patrões, os banqueiros, os quais deviam fiscalizar. Como outros mercadistas, enchem a boca para pedir
"cumprimento de contratos", o fim
da "incerteza jurisdicional" etc. Mas
os contratos de oligopólios com o
cliente comum valem tanto quanto
promessas do petismo-lulismo.
Em julho, mês de férias e de aviões
lotados no mundo inteiro, a empresa
pela qual viajava vendeu passagens
demais, por dias. É o velho "overbooking", como chamam o negócio, um
estelionato consuetudinário.
Precisei usar meu número de celular na França (celular, aliás, clonado
quatro vezes em três meses). Cobram
os olhos da cara e três dentes pelo serviço, mas minhas ligações caíam no
telefone de uma Vera, na Itália. Como soube? O banco em que tenho
conta, que havia feito besteira, tentava me ligar e caía na Vera, na Itália.
Não há mercado de bancos ou teles.
Não se troca de teles ou banco como
de padaria. De resto, o atendimento é
mefítico em qualquer parte do cartel,
mesmo nos serviços "exclusivos" com
nomes estrangeiros ridículos, Personalité, Class, Van Gogh, Francis Bacon, Dalí ou o raio que os parta.
Reclamar? Você cai no 0800: um
pobre diabo repete uma algaravia a
fim de enrolar, fazer a gente desistir
ou trabalhar para eles. "Senhor, onde
foi emitido o PQT do PTA do bilhete,
senhor?" "Senhor, o sinistro da TED
foi estornado para o quinto dos infernos, o senhor vai ter de estar indo lá
para desbloquear, senhor."
Alguém já viu anúncio oficial com
o telefone de agência reguladora, para a gente dar queixa? Não. Aliás, as
agências funcionam? Não.
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