São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FERNANDO RODRIGUES

Doações ocultas de campanha

BRASÍLIA - Até ontem, quem entrava no google.com.br e digitava "Vega Engenharia Ambiental" recebia de volta 679 citações. Nenhuma delas sobre a doação de R$ 555 mil para as campanhas de Lula e de José Genoino em 2002, para presidente e para governador de São Paulo, respectivamente. Muito menos que a mesma empresa havia derramado R$ 1,58 milhão nos cofres do PT.
Nada de errado nas doações. O problema é a dificuldade de acesso a esse tipo de dado. Graças à reportagem de Rubens Valente, Cátia Seabra, Chico de Gois e Guilherme Bahia, na Folha de ontem, informações de caráter público ficaram mais conhecidas.
As doações de campanha para cada político já estão em tse.gov.br. É pouco. O eleitor tem de saber o nome de uma empresa e de todas as suas subsidiárias para chegar ao valor total que um grupo econômico específico deu a um candidato. Dezenas de cliques depois, desiste.
No caso dos partidos, a situação é pior. As agremiações têm suas contas publicadas, mas as relações de doadores só estão disponíveis em papel, nos cartórios da Justiça Eleitoral.
Para saber quanto uma empresa doou para políticos e partidos, é necessário atravessar um pântano de sites na internet e guichês de repartições da Justiça Eleitoral. Como diz o advogado Torquato Jardim, ex-ministro do TSE, "quem quiser faz o cruzamento". Para ele, "a Justiça Eleitoral não é obrigada a fazer esse cruzamento". Mais ou menos.
O espírito da lei é dar transparência às doações. Cabe ao TSE e aos TREs facilitar o acesso aos dados -e não arquivá-los de forma quase incompreensível em uma gaveta.
A primeira providência é obrigar também os partidos a entregar digitados seus dados sobre doações (candidatos já fazem isso). Outra ação útil seria atualizar os balancetes das agremiações no site do TSE -ontem, o mais recente do PT era de setembro de 2002. O do PSDB, de julho do mesmo ano. Não é preciso lei para melhorar esse quadro. Basta uma resolução da Justiça Eleitoral.



Texto Anterior: São Paulo - Vinicius Torres Freire: Quem mexeu no meu contrato?
Próximo Texto: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: O colchão do governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.