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A MUDANÇA DO IRA
A decisão do IRA (Exército Republicano Irlandês) de depor
armas colocando fim a 35 anos de
atividades terroristas, num conflito
que remonta ao século 17, prova que
é possível encontrar soluções políticas mesmo para embates cujas origens se perdem no tempo e que encerram componentes religiosos.
O IRA, católico, lutava contra a presença britânica na Irlanda do Norte,
da qual 60% são protestantes e não
querem que o país deixe de fazer parte do Reino Unido. Em sua campanha pela unificação da Irlanda do
Norte com a República da Irlanda
(país independente, de maioria católica), o IRA assassinou cerca de 1.800
pessoas em diversos ataques.
A renúncia às armas, que ainda
precisa ser seguida de gestos concretos, se inscreve num processo político que teve início nos anos 90, mas
que experimentou várias idas e vindas. Entre os fatores que parecem ter
contribuído para a solução destacam-se, além da disposição de todas
as partes para negociar seriamente, a
consolidação da democracia na Irlanda no âmbito da União Européia e
sua pujança econômica. Com efeito,
os irlandeses da República, que antes
davam apoio moral e financeiro ao
IRA, deixaram de fazê-lo e, em muitos casos, passaram a contestar os
meios utilizados pela organização.
O prestígio do IRA também vinha
sofrendo abalos entre seus simpatizantes mais ferrenhos, pois havia
claros indícios de que o grupo estava,
a exemplo de organizações políticas
da América Latina, se desviando para
o banditismo comum.
Por fim, parece correto afirmar
que, em algum sentido, o velho terrorismo ocidental foi desbancado
pelo novo terrorismo "jihadista" da
rede Al Qaeda. Na velha forma, as
ações eram pautas por uma lógica
política, totalmente distorcida, mas
ainda assim lógica. Na nova modalidade, a meta política -refundar o
Califado- mal se distingue de aspirações teológicas.
É como se o terrorismo se tivesse
tornado um fim em si mesmo. O
próprio terrorista se sacrifica como
homem-bomba. As ações visam a
ser o mais espetaculares -leia-se
mortíferas- possível. Nem os radicais do IRA querem correr o risco de
ser confundidos com essa gente.
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