São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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O FLAGELO DO TERROR

Esta tem sido uma semana sombria para o mundo civilizado. O terrorismo voltou a promover ataques em série, com sua habitual selvageria, deixando um rastro de sangue e indignação.
Inicialmente foi a confirmação de que os dois Tupolev que haviam caído na Rússia, matando 90 pessoas, foram derrubados por terroristas suicidas tchetchenos. A seguir, uma mulher-bomba explodiu-se em Moscou, matando ao menos 10 e ferindo mais de 50 pessoas. Ontem, um grupo, também da Tchetchênia, tomou uma escola na Ossétia do Norte, fazendo entre 120 e 400 reféns -a maioria crianças-, os quais ameaça assassinar caso a Rússia não liberte prisioneiros e não retire suas forças da república separatista.
No Iraque, extremistas anunciaram ter matado 12 trabalhadores nepaleses. Dois jornalistas franceses foram seqüestrados e suas vidas são oferecidas em troca da revogação da lei que bane o uso de véus islâmicos nas escolas públicas da França. Em Israel, um duplo ataque eliminou pelo menos 16 pessoas e feriu cerca de cem -e a retaliação certamente virá.
O terrorismo é odioso e injustificável. Nenhuma causa é justa o bastante para arrogar-se o direito de sacrificar vidas inocentes. Não é difícil reconhecer que os tchetchenos devam ter direito à autodeterminação, que a invasão do Iraque foi um erro e que os palestinos fazem jus a um Estado. Lutar por esses objetivos é legítimo, mas ameaçar, explodir, assassinar e decapitar a esmo é a negação mesma da civilidade e a renúncia à política.
A guerra ao terror deflagrada pelos Estados Unidos já demonstrou os seus limites. Países que se propõem a combater o terrorismo precisam investir mais em segurança e inteligência, mas não podem incorrer no erro que é negar as causas políticas do fenômeno. Tudo indica que não haverá segurança na Rússia, no Iraque, em Israel e no mundo enquanto os problemas tchetcheno, da soberania iraquiana e do Estado palestino não forem equacionados.
O mais inquietante, no entanto, é que, mesmo em caso de progressos na pacificação dessas regiões, nada assegura, num cenário internacional marcado por desequilíbrios e assimetrias, que novas reivindicações não surgirão em cena, dando prosseguimento à infame estratégia terrorista. O terror parece ser um desses flagelos que ainda poderá assombrar a humanidade por longo tempo, como a lembrá-la do quanto ainda resta a trilhar no caminho da convivência racional e civilizada.


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