São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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APOIO ANTI-REPUBLICANO

O público do horário eleitoral gratuito teve recentemente a oportunidade de assistir em São Paulo a um espetáculo lastimável. Diante da afirmação da prefeita petista Marta Suplicy de que tem administrado a cidade em parceria como o governo estadual, o governador Geraldo Alckmin declarou que "quem trabalha comigo é o Serra", como se sabe, o candidato de seu partido, o PSDB.
A resposta veio sob a forma de ameaça velada proferida por Aloizio Mercadante, líder do PT no Senado. Ele lembrou os paulistanos da situação de endividamento do município e de sua dependência em relação a verbas federais. Deu a entender que somente com Marta na prefeitura seria possível o desejável entendimento entre a cidade e governo federal.
Ao que tudo indica, Alckmin e Mercadante esqueceram-se de que, numa democracia, a cooperação e a coordenação dos poderes municipal, estadual e federal não devem se subordinar a interesses particulares ou partidários. Não é demais lembrar que um dos fundamentos do regime republicano reside no fato de que nele o exercício do poder deve submeter-se a regras impessoais com vistas ao bem público, não podendo constituir-se em instrumento de barganhas e chantagens.
É verdade que não se pode negar a ambos o direito de manifestar apoio a seus respectivos candidatos. Tampouco deve-se desconsiderar que as declarações ocorreram em meio a um acirrado embate eleitoral. Nem por isso, contudo, é admissível que em seus arroubos retóricos e propagandísticos políticos contrariem tão flagrantemente os princípios mais elementares da República.


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