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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Eleição, Papai Noel e botox
SÃO PAULO - O verdadeiro Papai Noel de Marta Suplicy não é o simpático Gonzalo Vecina, o médico bonachão que trocou o PSDB pelo PT e
aparece no horário eleitoral vendendo o CEU Saúde. O Papai Noel de
Marta chama-se bilhete único, iniciativa que agrada a funcionários e
empregadores, empregadas e patrões. É estranho por isso constatar
que, transcorridas mais de duas semanas de campanha na TV, o PT tenha atirado contra o próprio pé. Jogou luz sobre um assunto no qual a
vantagem de Serra é evidente e escondeu a sua cesta de presentes.
Polarizada, a campanha entrou
agora em nova fase -e seria ingênuo supor que o PT não vá atuar para corrigir seus equívocos estratégicos. Seja como for, o primeiro round
da TV ficou melhor para o PSDB.
Não é fácil saber ao certo o que se
passa no coração de uma campanha,
ainda mais quando se trata de uma
disputa tão acirrada e indefinida como esta que se vê em São Paulo. Mas
os sinais emitidos pela candidatura
Marta são no mínimo curiosos.
Há uma evidente esquizofrenia entre o ar angelical exibido pela petista
-na TV ou nos debates- e o temperamento explosivo da prefeita. A
dissintonia entre o estilo água-com-açúcar de Duda Mendonça e o jeito
arestoso de Marta ficará tanto mais
evidente à medida que as coisas não
evoluírem como o PT espera.
O partido não está preparado para
perder. Montou uma máquina de
propaganda como nunca se viu
-milionária quanto aos recursos e
leninista nos seus métodos. Nada
menos que 20% das residências paulistanas foram visitadas pelo exército
remunerado do PT, como mostra na
edição de hoje o Datafolha. A campanha tucana visitou apenas 2%.
Marta, porém, está desconfortável
no rico figurino que lhe foi proposto.
Parece engessada. O que, à sua maneira, talvez seja um sintoma do novo PT. A esquerda sucumbiu ao estilo botox quando chegou ao poder.
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