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ELIANE CANTANHÊDE
Vocabulário da crise
BRASÍLIA - Nunca uma crise política foi tão didática. Até a mais simples
criatura entende os termos usados
para ensinar quem pratica corrupção, como e onde.
É difícil entender, de tão abstratos,
valores como "2 milhões, 10 milhões,
1 bilhão" de qualquer coisa, seja real,
seja dólar. Mas é bem fácil fazer as
contas e saber o que significam "30
mil, 50 mil, 400 mil", especialmente
se são reais, pagos em parcelas e apelidados de "mensalão".
Depois, somaram-se à crise termos
como cueca, mala, dólar, cafetina.
Na seqüência, mais uns tantos que
não fazem parte da rotina do cidadão comum, mas já estão bem difundidos em botecos, padarias, salas de
jantar e escritórios, como caixa dois e
Land Rover.
De quebra, o nome de um dos envolvidos é auto-explicativo: Jacinto
Lamas, o ex-tesoureiro do PL que
buscou não sei quantos milhões nos
bancos do esquema Marcos Valério.
Só faltava ao dicionário das CPIs a
palavra "assassinato". Não falta
mais. João Francisco Daniel, irmão
do prefeito de Santo André, Celso Daniel, torturado e morto a tiros num
assalto ainda muito nebuloso, disse à
CPI dos Bingos que ele foi vítima porque sabia demais. Sabia, por exemplo, de propinas na prefeitura para as
campanhas petistas.
Esquenta o vocabulário, mudam os
focos. O Conselho de Ética votou por
unanimidade a favor da cassação de
Roberto Jefferson. As CPIs dos Correios e do Mensalão acusaram formalmente 18 parlamentares passíveis
de cassação de mandato. Mas a crise
não é mais "do Congresso". É também "do governo".
Dirceu, que foi homem forte do Planalto até outro dia, brinca de pular a
fogueira. O assessor petista Rogério
Buratti jogou Palocci no fogo com a
denúncia de propina na Prefeitura
de Ribeirão Preto para o PT. O irmão
de Celso Daniel agora empurra Gilberto Carvalho, o mais fiel escudeiro
de Lula.
O ministro Thomaz Bastos acha
que o dicionário se esgotou e a crise
está "no fim". Há controvérsias.
@ - elianec@uol.com.br
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