São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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NELSON MOTTA

Em nome do macho

RIO DE JANEIRO - Se atualmente já é difícil encontrar um parlamentar que não nos envergonhe, que dirá um que nos orgulhe. Como o deputado Fernando Gabeira, em quem me orgulho de ter votado, que nunca me decepcionou e agora deu mais um exemplo de coragem, independência, espírito público e virilidade moral, dizendo a Severino Cavalcanti o que ele merecia ouvir e o que a maioria não diz para não perder as viagens, verbas e vantagens que o patusco presidente distribui em troca de apoios e fidelidades.
Agora mesmo, o ninho de ratos conhecido como baixo clero está em polvorosa: vai sair a escalação para o avião da alegria que levará um bando? Uma matilha? Uma quadrilha? De parlamentares monoglotas para uma semana de boca-livre em Nova York disfarçados de "observadores da Assembléia da ONU", claro, à custa dos impostos abusivos que nos sugam. Escolhidos a dedo por Severino.
Jornais e TVs, sigam os passos desses turistas oficiais, filmem e fotografem suas caras, seus cabelos pintados e suas gravatas horrendas, seus passeios por Manhattan carregando sacolas de esposas e amantes, em limusines obscenas, atraindo o riso e o deboche com sua deselegância e sua falta de educação. São os súditos de Severino torrando nosso dinheiro, nosso trabalho.
Gabeira falou grosso e alto, mas se manteve dentro de um certo decoro parlamentar. Severino é que, mais uma vez, até quando?, se mostrou em sua medonha significância ao tentar desclassificar os argumentos de Gabeira, "acusando-o" de "tentar se afirmar como homem" e que ele -machão nordestino caricato, homofóbico ativo- não sabia se havia conseguido... Para ele, um cidadão que goste de homens é menos cidadão ou menos homem e se iguala aos bandidos e picaretas que quer anistiar. Em nome da macheza, certamente.
O grande erro de Gabeira foi seqüestrar o embaixador americano e trocá-lo por José Dirceu.


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