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NELSON MOTTA
Em nome do macho
RIO DE JANEIRO - Se atualmente já é difícil encontrar um parlamentar
que não nos envergonhe, que dirá um
que nos orgulhe. Como o deputado
Fernando Gabeira, em quem me orgulho de ter votado, que nunca me
decepcionou e agora deu mais um
exemplo de coragem, independência,
espírito público e virilidade moral,
dizendo a Severino Cavalcanti o que
ele merecia ouvir e o que a maioria
não diz para não perder as viagens,
verbas e vantagens que o patusco presidente distribui em troca de apoios e
fidelidades.
Agora mesmo, o ninho de ratos conhecido como baixo clero está em
polvorosa: vai sair a escalação para o
avião da alegria que levará um bando? Uma matilha? Uma quadrilha?
De parlamentares monoglotas para
uma semana de boca-livre em Nova
York disfarçados de "observadores
da Assembléia da ONU", claro, à custa dos impostos abusivos que nos sugam. Escolhidos a dedo por Severino.
Jornais e TVs, sigam os passos desses turistas oficiais, filmem e fotografem suas caras, seus cabelos pintados
e suas gravatas horrendas, seus passeios por Manhattan carregando sacolas de esposas e amantes, em limusines obscenas, atraindo o riso e o deboche com sua deselegância e sua falta de educação. São os súditos de Severino torrando nosso dinheiro, nosso trabalho.
Gabeira falou grosso e alto, mas se
manteve dentro de um certo decoro
parlamentar. Severino é que, mais
uma vez, até quando?, se mostrou em
sua medonha significância ao tentar
desclassificar os argumentos de Gabeira, "acusando-o" de "tentar se
afirmar como homem" e que ele
-machão nordestino caricato, homofóbico ativo- não sabia se havia
conseguido... Para ele, um cidadão
que goste de homens é menos cidadão ou menos homem e se iguala aos
bandidos e picaretas que quer anistiar. Em nome da macheza, certamente.
O grande erro de Gabeira foi seqüestrar o embaixador americano e
trocá-lo por José Dirceu.
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