São Paulo, quarta-feira, 02 de outubro de 2002

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ESTADO DE SÍTIO

Israel finalmente suspendeu o cerco à Mukata, o QG de Iasser Arafat em Ramallah, na Cisjordânia. Como não acontecia havia muitos meses, o episódio representou uma importante vitória para o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP) e uma derrota de igual tamanho para o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon.
Os tanques e os buldôzeres de Israel se retiraram porque assim o exigiu a Casa Branca. O presidente George W. Bush deixou claro para governo israelense que não vai admitir nada que possa atrapalhar seus esforços para obter apoio a um ataque contra o Iraque. O sítio à Mukata, em aberto desafio a uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, atrapalhava. Enquanto Arafat permanecesse cercado, os EUA não poderiam nem começar a pensar em aglutinar apoio árabe a uma ação militar contra Saddam Hussein.
O resultado é que, após dez dias de sítio, durante os quais se chegou a temer pela vida de Arafat, Israel não obteve nenhuma das exigências que antes fazia para levantar o assédio. Nenhum dos supostos terroristas refugiados na Mukata foi apanhado, preso, julgado ou extraditado, como as autoridades israelenses cobravam.
Os objetivos políticos de Sharon foram igualmente frustrados. A sua estratégia tem sido a de isolar Arafat cada vez mais. O cerco à Mukata também seguia nessa linha. Mas o resultado objetivo da operação israelense foi o de elevar o prestígio de Iasser Arafat entre a população palestina, que, em janeiro, a crer nas pesquisas, deverá reelegê-lo para mais um mandato à frente da ANP.
Em Israel, alguns analistas sugerem que o fortalecimento do líder palestino poderá ser positivo para o processo de paz. Tem crescido entre os palestinos a facção dos que se opõem à ação dos homens-bomba e querem vê-la substituída por um movimento de massas de resistência pacífica. Se Arafat se aliar a essas vozes, como acreditam esses analistas, a paz poderá voltar a ter uma chance.


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