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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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Reflexões sobre a Fulbright

DONNA J. HRINAK


Vejo a educação como algo fundamental para garantir a segurança e o bem-estar de nossos povos

Educação e segurança são duas palavras que normalmente não aparecem no mesmo contexto. Entretanto aconteceu. Na recente Conferência Especial sobre Segurança, na Cidade do México, 34 países deste hemisfério concordaram que nossas ações conjuntas na abordagem dos desafios à segurança se baseiam em valores compartilhados e iniciativas comuns, dentre os quais educação. Sempre digo que a educação é fundamental em nossas relações bilaterais, assim como no processo da Cúpula das Américas, e três eventos recentes servem para reforçar essa mensagem.
O primeiro evento foi a já mencionada conferência da Cidade do México, dias 27 e 28, promovida pela OEA (Organização dos Estados Americanos), quando nossos países concordaram "que nossa cooperação para enfrentar as ameaças tradicionais e as novas ameaças, preocupações e outros desafios à segurança também se fundamenta em valores compartilhados e enfoques comuns reconhecidos no âmbito hemisférico (...) A educação para a paz e a promoção da cultura democrática têm um papel destacado no desenvolvimento dos Estados, no fortalecimento da estabilidade e na consolidação de nosso hemisfério como uma região onde prevalecem o entendimento e o respeito mútuo, o diálogo e a cooperação".
Esses também eram os objetivos do senador William J. Fulbright quando propôs a criação do Programa Fulbright, ao final da Segunda Guerra Mundial. O programa que leva seu nome foi criado para aumentar o entendimento mútuo entre o povo dos EUA e os povos de outros países. Nas palavras dele, "para trazer um pouco mais de conhecimento, um pouco mais de razão e um pouco mais de compaixão pelas questões mundiais e, assim, aumentar a chance de que outras nações aprendam a pelo menos viver em paz e amizade".
O segundo evento foi a outorga do Prêmio J. William Fulbright para o Entendimento Internacional a Fernando Henrique Cardoso, no dia 30 de outubro, pela Associação Fulbright nos Estados Unidos, em uma cerimônia no Departamento de Estado. Ao receber o prêmio, Fernando Henrique se juntou a outras figuras públicas, tais como Kofi Annan, Vaclav Havel e Nelson Mandela. O Prêmio J. William Fulbright para o Entendimento Internacional é uma enorme honra concedida ao ex-presidente brasileiro e ao Brasil. Fico feliz com sua premiação, e os brasileiros devem estar muito orgulhosos dele e de todos os outros ex-bolsistas também.
O terceiro evento é o aniversário da Comissão Fulbright no Brasil. Em 5 de novembro de 1957, foi criada a Comissão para Intercâmbio Educacional entre os Estados Unidos e o Brasil, mais conhecida como Comissão Fulbright, uma instituição sem fins lucrativos. Estamos comemorando 46 anos de intercâmbio ininterrupto!
Sou fã incondicional desse programa. Ele está presente em 150 países do mundo. Desde seu início, em 1946, mais de 250 mil pessoas já se beneficiaram de suas bolsas. No Brasil, desde 1957, foram mais de 2.600 brasileiros a receber bolsas para atividades educacionais nos EUA e mais de 2.200 norte-americanos para a mesma finalidade no Brasil.
A Comissão Fulbright tem vários ex-bolsistas ilustres, brasileiros e norte-americanos. Do lado brasileiro, são dois ministros do STF, Ellen Gracie e Joaquim Barbosa, um membro da Academia Brasileira de Letras, Moacyr Scliar, um ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, um ex-chanceler, Celso Lafer, uma ex-primeira dama, dra. Ruth Cardoso, e muitos outros.
Também temos ex-bolsistas fora da área acadêmica -o ator Paulo Betti e a bailarina Ana Botafogo são dois exemplos. Do lado dos EUA, temos vários brasilianistas conhecidos, entre eles Andrew Chesnut, Charles Wagley, Christopher Dunn, Janice Perlman, Peggy Sharpe, Robert Stam, Warren Dean e Ralph Della Cava.
Muitos desses nomes são reconhecidos pela maioria das pessoas, mas, para mim, todos os ex-bolsistas, tanto norte-americanos quanto brasileiros, são ilustres. Ilustres porque cada um deles, a seu modo, tem contribuído para o estreitamento de nossas relações em um clima de camaradagem. Esses profissionais, nas suas diversas áreas de atuação, fazem o trabalho de verdadeiros diplomatas -não só usam o conhecimento que adquiriram para melhorar a qualidade de suas instituições e gerar crescimento, mas também contribuem para o conhecimento valioso e permanente sobre o mundo, aproximando nossos povos e diminuindo "pré-conceitos".
Os ex-bolsistas da Fulbright contribuíram para o desenvolvimento da pós-graduação no Brasil e hoje fazem parte do corpo docente dos mais distintos programas acadêmicos brasileiros, especialmente nas ciências humanas. Quanto aos norte-americanos, o Programa Fulbright tem sido o principal celeiro para a formação de brasilianistas renomados.
Em todos os países onde funciona, estabelecemos parcerias com os governos locais, bem como com as empresas privadas. No Brasil, trabalhamos com a Capes, o CNPq e a Fapesp.
Gostaria de ver a parceria com a Fulbright aumentar, com maior participação do setor privado, para que possamos ter mais bolsistas. Quero aproveitar a oportunidade e lançar um desafio: precisamos aumentar o fluxo de bolsistas entre o Brasil e os EUA. Países tão grandes quanto os nossos devem ter um intercâmbio maior. Vejo a educação como algo fundamental para garantir a segurança e o bem-estar de nossos povos.


Donna J. Hrinak, 52, é embaixadora dos Estados Unidos no Brasil. Foi embaixadora na Bolívia (1998-2000) e na República Dominicana (1994-1997).


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