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São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

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CONTRA A CORRENTE

Contrariando o estereótipo segundo o qual políticos hoje não decidem nada sem antes examinar as pesquisas de opinião pública, quatro líderes ocidentais estão desafiando as preferências das populações de seus países e apóiam uma intervenção militar no Iraque. Eles são: Tony Blair (Reino Unido), José Maria Aznar (Espanha), Silvio Berlusconi (Itália) e John Howard (Austrália).
As pesquisas mostram que britânicos, espanhóis, italianos e australianos são esmagadoramente contra o conflito. Não é à toa que foi nesses países que ocorreram algumas das maiores manifestações populares contra a guerra.
Existem certas características comuns a esses líderes. À exceção de Blair, que é nominalmente um trabalhista, eles pertencem todos a partidos ou coalizões conservadores, assim como George W. Bush. Eles também partilham o fato de enfrentarem oposições bastante desarticuladas. A exceção, neste caso, fica por conta da Espanha, onde a posição de Aznar em relação ao Iraque vem melhorando o desempenho dos socialistas nas pesquisas de opinião.
É preciso reconhecer que esses líderes são corajosos, pois não é fácil para um político enfrentar a impopularidade, mas é preciso dizer que a aposta que fazem não é irracional. Em primeiro lugar, nunca é despropositado ficar do lado da nação mais poderosa do planeta. E aliar-se aos EUA agora é também uma forma de credenciar-se para receber uma parte do butim petrolífero iraquiano, depois da derrota de Saddam Hussein.
No fundo, Blair, Aznar, Berlusconi e Howard contam que a guerra será rápida e "limpa". É possível até que os soldados da coalizão anti-Saddam sejam recebidos pela população iraquiana como libertadores e não como invasores, hipótese em que o atual dano à imagem das lideranças se converteria em ganho.
A aposta, de todo modo, é arriscada. Qualquer revés militar ou atrocidade cometida contra civis iraquianos poderá reabilitar a oposição.


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