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VINICIUS TORRES FREIRE
Decepções
SÃO PAULO - Aparecem sinais de que Lula da Silva está atônito diante
das amarras das instituições e do desastre financeiro deixados por FHC.
A decepção também pipoca em uma
e outra pesquisa de opinião pública
que circula no mercado e, diz o rumor, também no governo.
A frustração brota da impotência
diante dos juros, e em torno disso
gravita o debate nacional. Mas juros
e/ou preços estão altos porque não temos crédito em dólar. O resto é derivado ou tecnicalidade.
Num país de economia e poder ínfimos, não se pode fazer muito para
atrair crédito. O que se pode fazer
são reformas radicais, muito além do
que FHC propunha e da pílula FHC
dourada que o PT propõe.
No meio do caminho está uma
classe média alta infensa à mudança
de status, que se acredita vítima, e
não beneficiária, do sistema. Está a
falta de um partido popular que dê
voz aos miseráveis, partido que não é
o PT, que nem social-democrata ora
é capaz de ser. Havia o MST, que não
passou de movimento de reivindicações tacanhas e de caráter revolucionário retrógrado e autoritário.
Políticos corruptos e bancos viram
bodes expiatórios. Bancos decerto
são parte do problema, mas não embutem solução. O debate político é
louco e burro, restrito a embates do
"mercado" com "radicais do PT",
ambos restolhos caricatos de equívocos econômicos. A revolta popular se
transmuda em crime apenas.
Não está em discussão nenhuma
redistribuição radical de fundos públicos. Não há força ou idéias para
reorientar o destino do investimento
privado. A administração cotidiana
ora é incapaz de imaginar alternativa para fazer ao menos parte do país
andar enquanto permanece a asfixia
financeira aguda.
Assim, espera-se, se vier, novo ciclo
de entrada de capital externo, sempre o motor descontínuo do país, ciclos aproveitados com mais ou menos competência pelos governos e
com crassa inépcia, para não dizer
pior, por FHC. De resto, o país está
travado por falta de consensos mínimos ou de força social capaz de aumentar a temperatura política.
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