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São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

Decepções

SÃO PAULO - Aparecem sinais de que Lula da Silva está atônito diante das amarras das instituições e do desastre financeiro deixados por FHC. A decepção também pipoca em uma e outra pesquisa de opinião pública que circula no mercado e, diz o rumor, também no governo.
A frustração brota da impotência diante dos juros, e em torno disso gravita o debate nacional. Mas juros e/ou preços estão altos porque não temos crédito em dólar. O resto é derivado ou tecnicalidade.
Num país de economia e poder ínfimos, não se pode fazer muito para atrair crédito. O que se pode fazer são reformas radicais, muito além do que FHC propunha e da pílula FHC dourada que o PT propõe.
No meio do caminho está uma classe média alta infensa à mudança de status, que se acredita vítima, e não beneficiária, do sistema. Está a falta de um partido popular que dê voz aos miseráveis, partido que não é o PT, que nem social-democrata ora é capaz de ser. Havia o MST, que não passou de movimento de reivindicações tacanhas e de caráter revolucionário retrógrado e autoritário.
Políticos corruptos e bancos viram bodes expiatórios. Bancos decerto são parte do problema, mas não embutem solução. O debate político é louco e burro, restrito a embates do "mercado" com "radicais do PT", ambos restolhos caricatos de equívocos econômicos. A revolta popular se transmuda em crime apenas.
Não está em discussão nenhuma redistribuição radical de fundos públicos. Não há força ou idéias para reorientar o destino do investimento privado. A administração cotidiana ora é incapaz de imaginar alternativa para fazer ao menos parte do país andar enquanto permanece a asfixia financeira aguda.
Assim, espera-se, se vier, novo ciclo de entrada de capital externo, sempre o motor descontínuo do país, ciclos aproveitados com mais ou menos competência pelos governos e com crassa inépcia, para não dizer pior, por FHC. De resto, o país está travado por falta de consensos mínimos ou de força social capaz de aumentar a temperatura política.


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