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São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

03.03.03

RIO DE JANEIRO - Filósofos de diversos tamanhos e feitios, mas principalmente os escolásticos, diziam que todo três é perfeito. Sendo assim, o dia de hoje, 3 de março de 2003, seria um dia perfeito. Perfeito para quê?
Terceiro dia do mês, é o segundo dia do Carnaval deste ano, Carnaval que alguns insistem em chamar de folia. E, honestamente, não vivemos um tempo que mereça ter dias perfeitos. J. D. Salinger escreveu um dos melhores contos da literatura moderna, "Um Dia Perfeito para o Peixe-Banana". No texto, não há nenhuma menção ao número 3 que tenha relação com a perfeição daquele dia, que, aliás, termina pessimamente para o personagem principal.
Em compensação, temos a Trindade, que é Santíssima, a terceira margem do rio, conto magistral do Guimarães Rosa, o tríduo momesco, que estamos vivendo e que é o único tríduo que tem mais de três dias. E no passado, tivemos, flutuando aqui nas águas da Guanabara, a barca da Cantareira que portava o nome de Terceira, pois havia uma Quinta, uma Sétima e mais não havia porque a Cantareira faliu e as barcas mudaram de visual e nome.
Digo mal que antigamente "flutuava" uma Terceira nas águas da Guanabara. Volta e meia ela deixava de flutuar e ia para o fundo da baía, só não era a campeã porque havia a Quinta, essa sim, recordista absoluta e mundial de naufrágios.
Mesmo assim, sou grato à Terceira. Numa terça-feira de carnaval, terceiro dia da folia, não às "cinco de la tarde", como no poema do García Lorca, mas às três da madrugada, na última viagem entre o Rio e Paquetá, com a barca praticamente vazia, com foliões exaustos que voltavam para casa, tive a minha primeira experiência com a mulher do próximo.
O marido dormia, de boca aberta, fantasiado de grego. As viagens eram longas, com maré adversa levavam mais de duas horas. Ela e eu éramos moços. Tivemos tempo para comprovar que a terceira era sempre a melhor.


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