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TENDÊNCIAS/DEBATES
Requerimento
OLAVO DE CARVALHO
Exmo. sr . Luiz Inácio da Silva, dias
atrás recebi de um admirador seu a
proposta de uma solução final para o
problema Olavo de Carvalho. "Quem
sabe uma sessão de tortura", insinuava
gentilmente o destinatário, passando
em seguida à descrição técnica do procedimento, com detalhes de ordem fisiológica que não devo reproduzir diante das senhoras aqui presentes.
Se a curiosidade de V. Exª. for muita,
posso enviar um "forward" ao Palácio
do Planalto, ou então V. Exª. talvez
queira pedir informações suplementares diretamente ao signatário,
skatecore@ibest.com.br, endereço que
deploravelmente suponho ser falso.
Qualquer que seja o caso, o fato é que recebo dúzias e dúzias dessas coisas, assinadas por militantes ou simpatizantes
petistas.
Outros não se contentam com enviá-las a mim: publicam-nas na internet. No
site CMI encontrei esta: "Mate o Olavo
de Carvalho. Você estará contribuindo
para fazer uma humanidade mais feliz".
V. Exª. há de admitir que essa solução é
muito mais definitiva que a anterior.
Mas, em geral, os remetentes, zelosos,
não se limitam aos insultos, ameaças de
morte e promessas de torturas indescritíveis. Espalham invencionices escabrosas a meu respeito, especialmente a de
que sou agente a soldo de tais ou quais
grupos financeiros, serviços secretos ou
movimentos políticos internacionais.
Para dar-lhes um ar de credibilidade,
falsificam mensagens em meu nome
com repugnante conteúdo racista e fascista e enviam-nas a sites de discussão,
onde funcionam como provas cabais da
minha maldade e incitam as massas a
dar cabo de tão abominável criatura.
Não faz três meses que V. Exª. botou o
sr. André Singer para rastrear e punir
quem espalhasse coisas ruins a seu respeito, o que mostra que se preocupa
com elas. Voltada contra o cidadão comum, sem partido ou organização que
o proteja, sem recursos financeiros para
defender-se de tantos ataques simultâneos, similar onda de maledicências é
incomparavelmente mais devastadora.
E as mensagens contra mim são bem
mais ferozes que as piadinhas que despertaram os instintos justiceiros do sr.
Singer.
O mais lindo, porém, é o lado moral.
Nada evidencia melhor a índole de uma
facção política do que a conduta coletiva de seus adeptos. O fato de que tantos
deles se prestem a tomar parte nesse
bombardeio de infâmias é a melhor
ilustração da mentalidade socialista ou
esquerdista, que quanto mais se afunda
na iniquidade mais se enaltece e se beatifica, proclamando servir à humanidade e até a Deus. As coisas são assim desde que Lênin decretou que os fins justificam os meios, omitindo-se de esclarecer que os meios são causa eficiente dos
fins e portanto os determinam.
V. Exª. buscará talvez minimizar o caso, alegando que a hostilidade insana
provém do excesso de zelo de uns tipinhos obscuros, cuja conduta em nada
reflete o espírito dos altos círculos de esquerda neste país.
Mas, Exª., não é nada disso. O estímulo, a incitação e mesmo o conteúdo essencial da massa de difamações atiradas
contra mim não partiram de nenhum
anarquista de porão, mas de notáveis
representantes da política e do pensamento petistas, inclusive dois colaboradores ministeriais de V. Exª. Milhares
de joões-ninguém não ousariam sair
cuspindo num escritor que mal conhecem, se não tivessem a respaldá-los o
precedente aberto pelas celebridades.
Nada evidencia melhor
a índole de uma
facção política do que
a conduta coletiva
de seus adeptos
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As premissas das quais essas mensagens truculentas são a conclusão inevitável foram lançadas na mídia pelos srs.
José Dirceu, Luiz Eduardo Soares, Emir
Sader, Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder, entre outros. Foram eles
que, inaptos a contestar racionalmente
minhas opiniões, inauguraram o apelo
geral à difamação grossa, pondo em circulação a lenda de que "represento" tais
ou quais organizações ou grupos que,
na verdade, ignoro ou desprezo. Dirá V.
Exª. que Soares e Dirceu, Sader, Coutinho e Konder são joões-ninguém?
Pois foram eles que, com suas palavras levianas, legitimaram a troca do
meu rosto autêntico por um estereótipo
asqueroso, deslanchando a enxurrada
de ódio irracional que desde então não
cessa de entupir meu computador e infernizar minha existência. Tudo o que
disseram a meu respeito está documentado, ao alcance do público, no meu livro "O Imbecil Coletivo" e no meu site,
www.olavodecarvalho.org.
Partindo das premissas que eles lançaram, a arraia-miúda partidária é inevitavelmente levada a enxergar, em
mim, não um homem de carne e osso
com quem se deve discutir, mas uma
força política impessoal, temível e maquiavélica, que deve ser destruída a
qualquer preço e contra a qual vale tudo. E as mensagens de cima não deram
aos de baixo só o conteúdo das mentiras, mas o exemplo legitimador de um
estilo de luta que, se aceito pelos mais
célebres, deve ser bom também para os
pequenos e anônimos.
Não tendo eu cargo público do qual
possa ser expelido nem mandato do
qual possa sofrer impeachment, o que é
que essa campanha visa destruir, senão
as garantias para o desempenho de minhas tarefas de jornalista e escritor e a
possibilidade mesma de minha existência na sociedade brasileira? E quem lucra com isso, sr. presidente, senão o seu
partido e a sua pessoa? Quem, sobre essa base de infâmia e calúnia, ergue bem
alto sua imagem de probidade, pureza e
quase santidade?
Solicito, pois, a V. Exª. que faça saber a
seus adeptos e admiradores que a preservação da boa imagem, tal como a liberdade de constrangimentos e ameaças, é direito constitucional de todos os
brasileiros -inclusive eu, por incrível
que isso pareça a alguns-, e não somente de V. Exª. e deles próprios.
Olavo de Carvalho, 55, jornalista e ensaísta, é
autor de "O Jardim das Aflições" (É Realizações,
2001), entre outros livros.
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