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IRAQUE CONTRA IRAQUE
Tudo indica que a intenção
dos perpetradores é lançar o
Iraque numa guerra civil de larga escala. O duplo atentado desferido
contra mesquitas xiitas ontem buscou, além da destruição física -que
produziu pelo menos 170 mortos e
440 feridos-, a agressão simbólica.
Os ataques ocorrem em plena "Ashura", um dos principais festivais
xiitas, no qual se celebra um dos
eventos da história do islã mais ligados à identidade desta seita muçulmana: o martírio de Hussein, o neto
do profeta Muhammad, por sunitas,
após a batalha de Karbala, em 680.
As desavenças entre sunitas e xiitas
começaram logo após a morte de
Muhammad, em 632. Enquanto os
primeiros estavam dispostos a aceitar como sucessor (califa) do profeta
qualquer um capaz de liderá-los, os
xiitas insistiam em que a escolha recaísse sobre parentes de Muhammad. Pretendiam entronizar Ali, que
era primo e genro do profeta. Ali acabou se tornando o quarto califa em
656, mas foi assassinado cinco anos
depois. Seu filho, Hussein, tentou recuperar o posto do pai, mas, sem
apoio, foi derrotado em Karbala.
As discórdias políticas entre xiitas e
sunitas logo deram lugar a divisões
teológicas, embora nenhuma delas
pareça especialmente significativa.
Foi no final do século 20, com a revolução iraniana e seus clérigos políticos, que os xiitas ganharam a merecida fama de radicais. Os bárbaros
atentados de ontem, contudo, quase
certamente praticados por sunitas,
evidenciam que o fanatismo não é
prerrogativa de uma das seitas.
Resta saber como os xiitas vão responder aos ataques. Embora minoritários no islã, eles são majoritários
no Iraque, correspondendo a cerca
de 60% da população. Já estavam
descontentes com a exclusão da
"sharia" -a lei islâmica- como
principal fonte da legislação civil. Se
aceitarem a provocação -muito
provavelmente lançada pela Al Qaeda-, a violência no Iraque, que já é
grande, poderá assumir dimensão
ainda mais assustadora.
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