São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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CLÓVIS ROSSI

À abordagem

MADRI - O apoio do Brasil à tese argentina de uma "abordagem conjunta" nas negociações com os organismos financeiros internacionais foi maior do que deu a entender a mídia brasileira, embora menor do que insinuou a argentina.
O importante é que a expressão "abordagem conjunta" recoloca uma discussão vencida pela equipe econômica brasileira quando da assinatura, por Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner, do "Consenso de Buenos Aires" (outubro).
No tema "dívida", a proposta argentina dizia: "Expressamos nossa firme vontade de cumprir com nossos compromissos relativos à dívida externa de forma que não limite nem deteriore as possibilidades de crescimento econômico, investimentos e desenvolvimento social".
A Fazenda vetou, porque havia aí uma leve insinuação de calote. O texto ficou assim: "Expressamos que a administração da dívida pública deve ter como horizonte a criação de riqueza e de postos de trabalho, a proteção da poupança, a redução da pobreza, o fomento da educação e da saúde e a possibilidade de manter políticas sustentáveis de desenvolvimento econômico e social".
Agora, a disputa está de volta no próprio governo brasileiro.
Até o dia 10, quando ministros argentinos e brasileiros voltam a se reunir, ambos os lados têm de definir mais claramente o que é "abordagem conjunta". O lado argentino já sabe: "Não se pagará (a dívida) à custa da fome e da pobreza do povo", disse Kirchner anteontem.
É uma versão mais sangrenta da formulação proposta para o "Consenso de Buenos Aires".
Do lado brasileiro, o ministro Antonio Palocci volta ao tema do superávit anticíclico (maior quando há bonança, menor quando há dificuldades). Disse ontem ao "Bom Dia, Brasil": "O que vamos fazer no ano que vem é introduzir a idéia de um superávit que seja variável com o crescimento econômico".
Não é uma idéia nova (já foi levada ao FMI em abril), mas é enfatizada em um momento-chave.


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