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FERNANDO RODRIGUES
Fato novo, uma demência
BRASÍLIA - Há uma lógica demencial em Brasília. Quando surge um
escândalo, a reação imediata é de
terra arrasada. Demite-se o envolvido. Começa um festival de coleta de
assinaturas a favor de uma CPI.
Em seguida, quase que de maneira
imediata, integrantes do governo sacam do coldre o argumento mortal:
"É preciso um fato novo para haver
CPI ou para que o ministro seja demitido". Ou ainda: "Se não tiver fato
novo, fica por isso mesmo".
No Brasil, são necessários crimes
em série para haver punição. Ontem
havia um fato novo na manchete
desta Folha: "Maioria quer o afastamento de Dirceu, mas poupa Lula".
Para 67% dos entrevistados pelo Datafolha em todo o país, o ministro José Dirceu, ex-chefe de Waldomiro Diniz, deve sair do Planalto.
Opinião da população há muito
tempo não é fato novo para os políticos. Registre-se que essa atitude não
nasceu no PT. Em 1997, dois deputados revelaram ter recebido R$ 200
mil em dinheiro para votar a favor
da emenda da reeleição, de FHC. Renunciaram ao mandato. Sumiram.
Nada foi investigado. Era necessário,
dizia-se, um fato novo.
Em 1999, a coleção completa das fitas do grampo do BNDES mostrava
FHC dizendo "não tenha dúvida,
não tenha dúvida", em resposta se
seu nome poderia ser usado na montagem de um consórcio interessado
na compra da Telebrás. Nada aconteceu. Faltou um fato novo.
Agora, o assessor do ministro da
Casa Civil revela ter-se encontrado às
escondidas com um empresário do
ramo de loterias -já durante o governo Lula. O mesmo a quem havia
pedido propina e doações para campanhas políticas. Exonerado o funcionário, nada se faz dentro do Planalto para punir o responsável pela
contratação do demitido. Sem um fato novo, nada acontece.
Ao se esvair com o argumento do
fato novo inexistente, o Planalto salva José Dirceu. Paga caro. Vigora no
governo um estado perene de afasia
mental. O país está paralisado.
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