São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Sumindo pelo ralo

RIO DE JANEIRO - Muita gente, sobretudo o pessoal que está no poder do governo ou da sociedade, fica ofendida quando o Brasil é considerado, pelas pesquisas feitas lá fora, como um dos países mais corruptos do mundo.
Nesse particular, a classe média, vale dizer, o brasileiro comum, sabe que a fama do Brasil (futebol, Carnaval, corrupção) é mais do que merecida.
Os dois primeiros, o futebol e o Carnaval, de certo modo são positivos, dão prestígio e visibilidade ao país. Já a corrupção, além de abominável, é negada pelos governos que se sucedem e pelos escalões mais altos da sociedade.
O caso Waldomiro, simples bola da vez, é uma prova não apenas da corrupção, que é vasta, atávica, digerida de uma forma ou de outra pelo organismo nacional, mas da distorção moral e administrativa que nos prejudica mais do que a corrupção em si.
Analisados no último domingo por Janio de Freitas, os índices referentes a 2003, primeiro ano do governo Lula, foram negativos em toda a linha, a ponto de obrigarem o presidente a prometer um espetáculo do crescimento para o futuro, como se continuasse simples candidato de oposição tentando chegar à Presidência, na qual se instalou há mais de um ano.
Apesar dos números, que não mentem jamais, nem o governo nem o PT se mobilizaram para enfrentar o marasmo da economia e dos índices sociais. Bastou um escândalo, que, em cifras, nem chegou a ser monumental, mas envolveu o PT na base e na cúpula, e todo o partido se agitou, cada petista transformando-se em bombeiro para apagar o incêndio que não foi tão grande assim.
Não dá para entender a apatia do partido e a insensibilidade do governo diante da estagnação que atravessamos. Mas, em se tratando de moral e de compostura, toda a engrenagem petista se movimenta para garantir a imagem de vestal que foi artificialmente construída e naturalmente está se esvaindo pelo ralo da vida pública.


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