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CARLOS HEITOR CONY
Sumindo pelo ralo
RIO DE JANEIRO - Muita gente, sobretudo o pessoal que está no poder
do governo ou da sociedade, fica
ofendida quando o Brasil é considerado, pelas pesquisas feitas lá fora,
como um dos países mais corruptos
do mundo.
Nesse particular, a classe média, vale dizer, o brasileiro comum, sabe que
a fama do Brasil (futebol, Carnaval,
corrupção) é mais do que merecida.
Os dois primeiros, o futebol e o Carnaval, de certo modo são positivos,
dão prestígio e visibilidade ao país. Já
a corrupção, além de abominável, é
negada pelos governos que se sucedem e pelos escalões mais altos da sociedade.
O caso Waldomiro, simples bola da
vez, é uma prova não apenas da corrupção, que é vasta, atávica, digerida
de uma forma ou de outra pelo organismo nacional, mas da distorção
moral e administrativa que nos prejudica mais do que a corrupção em si.
Analisados no último domingo por
Janio de Freitas, os índices referentes
a 2003, primeiro ano do governo Lula, foram negativos em toda a linha,
a ponto de obrigarem o presidente a
prometer um espetáculo do crescimento para o futuro, como se continuasse simples candidato de oposição tentando chegar à Presidência,
na qual se instalou há mais de um
ano.
Apesar dos números, que não mentem jamais, nem o governo nem o PT
se mobilizaram para enfrentar o marasmo da economia e dos índices sociais. Bastou um escândalo, que, em
cifras, nem chegou a ser monumental, mas envolveu o PT na base e na
cúpula, e todo o partido se agitou, cada petista transformando-se em
bombeiro para apagar o incêndio
que não foi tão grande assim.
Não dá para entender a apatia do
partido e a insensibilidade do governo diante da estagnação que atravessamos. Mas, em se tratando de moral
e de compostura, toda a engrenagem
petista se movimenta para garantir a
imagem de vestal que foi artificialmente construída e naturalmente está se esvaindo pelo ralo da vida pública.
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