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IMPRENSA CEGA
A guerra que George W. Bush
declarou ao Iraque aspergiu
uma névoa de "patriotismo" sobre
os EUA, o que tem levado a outrora
independente imprensa norte-americana a fazer uma cobertura do conflito que não honra suas tradições.
A maré nacionalista vem desde o 11
de setembro de 2001, mas com a
guerra atingiu o paroxismo. Os pontos negativos da cobertura não se limitam ao clima de torcida que tomou conta dos principais canais de
TV do país, tendo chegado a afetar os
fundamentos do bom jornalismo
que parte da imprensa norte-americana ensinou o mundo a cultivar.
Mesmo agora, quando reveses militares das forças anglo-americanas
dão margem às primeiras críticas,
elas estão quase que inteiramente
centradas na condução da guerra,
sem questionar sua oportunidade ou
legitimidade, ao contrário do que
vem fazendo o resto do mundo.
Seria exagero falar em censura.
Bons órgãos de mídia dão voz a opositores da guerra, mas parece evidente que o clima que toma conta da imprensa de um modo geral não favorece a independência. É emblemática
a esse respeito a demissão de um correspondente da NBC, por conceder
entrevista à TV iraquiana afirmando
que o Pentágono cometeu erros.
Alguns jornais, como "The New
York Times", tiveram a coragem de,
em editoriais, posicionar-se contra o
conflito, mas nem por isso seus textos escapam à pasteurização e ao
tom pró-bélico que marca a cobertura desta segunda Guerra do Golfo.
A tendência é que, com o tempo,
passe a cegueira provocada pelo nacionalismo e pela propaganda. O fato de os jornais já questionarem os
planos militares é de certo modo reconfortante. Talvez dentro de mais
algum tempo a parcela mais informada dos norte-americanos possa
acessar o outro lado dessa guerra,
mais sangrento e difícil de justificar.
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