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São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2003

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CLÓVIS ROSSI

PT e Síndrome de Estocolmo

SÃO PAULO - O PT parece ter contraído a Síndrome de Estocolmo: apaixonou-se por seus captores.
Como se sabe, a eleição brasileira de 2002 foi capturada pelos tais agentes de mercado, seguindo a previsão de seu maior guru, George Soros, para quem ou ganhava José Serra ou viria o caos.
O caos veio, na forma de aumentos desmedidos do dólar (e, por extensão, da inflação) e do risco-país.
O PT, ao perceber que poderia ser morto pelos seus captores se ganhasse a eleição, tratou de apaziguá-los com a edição da "Carta ao Povo Brasileiro", na qual se comprometia a jogar o jogo de acordo com as regras vigentes até então apesar de ter passado a vida condenando-as.
Até aí, vá lá. A situação era mesmo difícil e qualquer movimento em falso poderia representar a morte.
Mas não era preciso cair de amores pelos carcereiros. Até o discurso do PT assimilou a linguagem dos captores. Risco-país passou a ser uma obsessão, como se dos gráficos do JP Morgan dependesse a felicidade nacional bruta, o que é tolice.
O dado mais simbólico da Síndrome de Estocolmo é o fato de até Luiz Inácio Lula da Silva ter festejado a informação (falsa) de que foi o presidente mais aplaudido em Davos. Não foi. Só eu, que nem estive em todos os encontros de Davos, já vi Bill Clinton e Nelson Mandela, pelo menos, serem mais aplaudidos.
Não importa. Importa que Lula se deslumbrou com o aplauso de quem representa (ou representava?), na simbologia petista, a antítese de tudo o que o partido gostaria de fazer quando chegasse ao poder.
Outro dado igualmente relevante é que o PT, para agradar aos captores, está produzindo um superávit fiscal superior ao resgate por eles pedido. Esquece que o amor aos carcereiros é unilateral: na hora em que o PT tentar fugir, se é que vai tentar algum dia, será alvejado da mesma maneira que o seria se tivesse tentado fugir desde o primeiro dia.


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