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CORTE SABOTADA
O unilateralismo do presidente George W. Bush acaba
de eleger seu novo alvo: o Tribunal
Penal Internacional (TPI), a corte
permanente para julgar crimes de
guerra, contra a humanidade e atos
de genocídio que começou a funcionar na última segunda na Holanda.
Os EUA jamais foram simpáticos à
idéia de uma Justiça autônoma e com
competência universal. Temiam que
um tribunal dessa natureza pudesse
ser utilizado politicamente contra
norte-americanos. Estranhamente,
colocam-se assim ao lado de nações
como Rússia e China, cujo histórico
em termos de democracia e direitos
humanos não é dos melhores.
De todo modo, se havia motivos
concretos para justificar a preocupação norte-americana, eles deixaram
de existir quando se estabeleceram as
regras sob as quais o TPI atuará. A
corte só poderá processar acusados
de crimes considerados particularmente graves, e isso se o país de origem do réu recusar-se a julgá-lo. O
TPI também poderá atuar caso o país
do réu encene um julgamento só para livrá-lo dos promotores internacionais. É improvável que isso ocorra
nos EUA, uma democracia com sistema judiciário independente.
Mesmo assim, a Casa Branca tentou obter para seus cidadãos imunidade do TPI. O Conselho de Segurança da ONU, que inclui fiéis aliados de Washington, como o Reino
Unido, se recusou a concedê-la.
Bush, em retaliação, vetou a prorrogação da missão da ONU na Bósnia e
ameaça retirar-se de todas as operações de paz sob a égide das Nações
Unidas. Há até quem mencione a
possibilidade de a Casa Branca deixar de pagar a quota dos EUA no custeio dessas missões.
Essa atitude do governo norte-americano só pode ser vista como
uma pouco disfarçada operação de
sabotagem ao TPI. Bush parece acreditar que tem força para ditar as normas mundiais. É um passo arriscado. Ele ainda necessita de alguma colaboração internacional para vencer
sua guerra contra o terror.
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