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CARLOS HEITOR CONY
Zé Celso
RIO DE JANEIRO - Não cheguei a levar um susto. Estava no aeroporto de
Brasília e vi chegar o Antônio Conselheiro, bata branca, imaculadamente
branca, leitosa, barbas igualmente
brancas e veneráveis, tudo grudado
no rosto simpático e eternamente jovem do Zé Celso Martinez Corrêa.
Corremos um para o outro, havia
muito que não nos víamos. O abraço
foi caloroso, rosto no rosto, grande Zé
Celso! Estivemos juntos em Havana,
num distante ano do passado, quando brasileiro era proibido de ir a Cuba. Mas nós fomos, ele jurado do Casa de Las Americas (teatro), eu também jurado (romance).
Zé Celso reinventara o nosso palco
com a clássica montagem de "Os Pequenos Burgueses", a melhor coisa a
que já assisti em teatro, com o grande
Eugênio Kusnet no personagem principal de Górki. Depois ele encenou
"Rei da Vela" e "Roda Viva", inaugurando uma era em nossos espetáculos. E não parou, continua criando.
Deixou Oswald de Andrade e entrou
em Euclides da Cunha: sua leitura de
"Os Sertões" está ganhando mundo.
Além disso, topou uma pinimba
com Silvio Santos e, milagre dos milagres, tudo vai sair bem, tanto para
o teatro como para o empresário. Vamos agora contatar Oscar Niemeyer,
outro fora de série, que topa qualquer
parada grandiosa.
Faz tempo que perdi o medo de
avião. Mas substituí o pavor aéreo
pelo pânico terrestre de aeroportos.
Temo os aeroportos, confundo-me
com eles e os detesto. Mas devo a eles
esses reencontros com pessoas queridas que vale a pena abraçar.
Acompanho a carreira do Zé Celso,
admiro sua radicalização, sua força
vital, sua juventude de profeta, belo
em sua bata branca, em suas barbas,
em sua busca pelo novo, em sua busca pelo prazer, pela verdade da coisa
simples e fatal, que somente o artista
liberado dos penduricalhos culturais
e políticos pode alcançar.
Acredito que Oscar Niemeyer embarcará no projeto do Zé Celso e com
isso ganharemos todos.
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