São Paulo, sábado, 03 de julho de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Zé Celso

RIO DE JANEIRO - Não cheguei a levar um susto. Estava no aeroporto de Brasília e vi chegar o Antônio Conselheiro, bata branca, imaculadamente branca, leitosa, barbas igualmente brancas e veneráveis, tudo grudado no rosto simpático e eternamente jovem do Zé Celso Martinez Corrêa.
Corremos um para o outro, havia muito que não nos víamos. O abraço foi caloroso, rosto no rosto, grande Zé Celso! Estivemos juntos em Havana, num distante ano do passado, quando brasileiro era proibido de ir a Cuba. Mas nós fomos, ele jurado do Casa de Las Americas (teatro), eu também jurado (romance).
Zé Celso reinventara o nosso palco com a clássica montagem de "Os Pequenos Burgueses", a melhor coisa a que já assisti em teatro, com o grande Eugênio Kusnet no personagem principal de Górki. Depois ele encenou "Rei da Vela" e "Roda Viva", inaugurando uma era em nossos espetáculos. E não parou, continua criando. Deixou Oswald de Andrade e entrou em Euclides da Cunha: sua leitura de "Os Sertões" está ganhando mundo.
Além disso, topou uma pinimba com Silvio Santos e, milagre dos milagres, tudo vai sair bem, tanto para o teatro como para o empresário. Vamos agora contatar Oscar Niemeyer, outro fora de série, que topa qualquer parada grandiosa.
Faz tempo que perdi o medo de avião. Mas substituí o pavor aéreo pelo pânico terrestre de aeroportos. Temo os aeroportos, confundo-me com eles e os detesto. Mas devo a eles esses reencontros com pessoas queridas que vale a pena abraçar.
Acompanho a carreira do Zé Celso, admiro sua radicalização, sua força vital, sua juventude de profeta, belo em sua bata branca, em suas barbas, em sua busca pelo novo, em sua busca pelo prazer, pela verdade da coisa simples e fatal, que somente o artista liberado dos penduricalhos culturais e políticos pode alcançar.
Acredito que Oscar Niemeyer embarcará no projeto do Zé Celso e com isso ganharemos todos.


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