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Duvido, mas torço
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Otavio Frias Filho, diretor de Redação, diz jamais ter visto, em
seus 20 anos de Folha, duas coisas,
uma das quais é uma reforma ministerial realmente ampla (a outra, guardo
para uma futura coluna quando o assunto ressurgir, como certamente o fará).
Eu também nunca vi, nem nos meus
20 anos de Folha nem nos 15 anteriores, salvo em mudança de presidente.
Some-se a essa memória histórica a
personalidade de Fernando Henrique
Cardoso, avessa radicalmente a revoluções, ainda que ministeriais. Pronto:
temos todos os motivos para duvidar
que o país possa ser surpreendido por
uma grande reformulação.
Ceticismo à parte, que o governo precisa de uma bela plástica, lá isso precisa. Sofre do que Ibrahim Eris, o ex-presidente do Banco Central no início do
governo Collor, chamou de "envelhecimento precoce", no caderno publicado
por esta Folha a propósito do quinto
aniversário do real.
A situação está tão feia para o governo que ninguém parece se chocar muito com o uso dessa expressão, embora
ela se refira a um bebê de apenas seis
meses (o segundo período presidencial). Se está "velho" assim em julho, o
bebê será um verdadeiro monstro em
dezembro.
Só espero que FHC não ressuscite a
expressão "ministério de notáveis",
empregada, por exemplo, por Fernando Collor quando já começava a descer
ladeira abaixo. O que o "ministério de
notáveis" fez foi apenas carregar o caixão do governo "collorido" a um enterro pouco digno, o do impeachment.
O que um eventual novo ministério
deveria oferecer, mais que nomes, seria
horizontes. Pela biografia, FHC despertou um grau de esperanças tal que
até um oposicionista, Darcy Ribeiro,
chegou a dizer que era um "luxo" para
o país ter, como candidatos viáveis
eleitoralmente, Luiz Inácio Lula da
Silva e o próprio FHC.
A desesperança atual, visível a olho
nu, é filha direta da frustração.
Prefiro perder a aposta em que FHC
não fará nenhuma grande reforma a
ver a desesperança cristalizar-se.
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