São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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Duvido, mas torço

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Otavio Frias Filho, diretor de Redação, diz jamais ter visto, em seus 20 anos de Folha, duas coisas, uma das quais é uma reforma ministerial realmente ampla (a outra, guardo para uma futura coluna quando o assunto ressurgir, como certamente o fará).
Eu também nunca vi, nem nos meus 20 anos de Folha nem nos 15 anteriores, salvo em mudança de presidente.
Some-se a essa memória histórica a personalidade de Fernando Henrique Cardoso, avessa radicalmente a revoluções, ainda que ministeriais. Pronto: temos todos os motivos para duvidar que o país possa ser surpreendido por uma grande reformulação.
Ceticismo à parte, que o governo precisa de uma bela plástica, lá isso precisa. Sofre do que Ibrahim Eris, o ex-presidente do Banco Central no início do governo Collor, chamou de "envelhecimento precoce", no caderno publicado por esta Folha a propósito do quinto aniversário do real.
A situação está tão feia para o governo que ninguém parece se chocar muito com o uso dessa expressão, embora ela se refira a um bebê de apenas seis meses (o segundo período presidencial). Se está "velho" assim em julho, o bebê será um verdadeiro monstro em dezembro.
Só espero que FHC não ressuscite a expressão "ministério de notáveis", empregada, por exemplo, por Fernando Collor quando já começava a descer ladeira abaixo. O que o "ministério de notáveis" fez foi apenas carregar o caixão do governo "collorido" a um enterro pouco digno, o do impeachment.
O que um eventual novo ministério deveria oferecer, mais que nomes, seria horizontes. Pela biografia, FHC despertou um grau de esperanças tal que até um oposicionista, Darcy Ribeiro, chegou a dizer que era um "luxo" para o país ter, como candidatos viáveis eleitoralmente, Luiz Inácio Lula da Silva e o próprio FHC.
A desesperança atual, visível a olho nu, é filha direta da frustração.
Prefiro perder a aposta em que FHC não fará nenhuma grande reforma a ver a desesperança cristalizar-se.



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