São Paulo, Sábado, 03 de Julho de 1999
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Privatizem o Banco do Brasil

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - O caso dos precatórios da Prefeitura de São Paulo no Banco do Brasil é muito difuso. O banco divulgou uma nota rocambólica, para usar o termo da moda, com uma desculpa esfarrapada. A mídia chapa-branca se satisfez e encaixou.
Mas há outro escândalo mais explícito na operação de federalização da dívida da Prefeitura de São Paulo. Trata-se de um empréstimo de R$ 324 milhões do BB para a prefeitura paulistana em 23 de dezembro de 97.
Naquela data, se Celso Pitta entrasse no Bradesco ou no Itaú pedindo um empréstimo, correria o risco de ser dado como louco. Acabaria despachado para um sanatório.
Não no Banco do Brasil. Especializado em patrocinar torcedores desocupados de vôlei de praia, o BB emprestou R$ 324 milhões para Pitta. O prefeito pagou contas atrasadas. Empreiteiras (OAS e Vega Sopave, entre outras) ficaram exultantes.
Meses depois, como já sabia a torcida do Corinthians, Pitta deu calote no Banco do Brasil. No início deste ano, quando deveria quitar o empréstimo, o prefeito tinha atrasado mais de R$ 200 milhões com o BB.
Tudo foi resolvido com uma providencial operação de federalização da dívida paulistana (aí incluídos os precatórios fajutos). Pitta ficou sem pagar, o BB foi salvo e os contribuintes brasileiros receberam a conta.
Como se tivesse o poder de fabricar dinheiro e depois destruí-lo numa prefeitura mal-administrada, o BB não se interessa em explicar a doação de R$ 324 milhões para Pitta.
Depois de dois dias de espera, recebi a seguinte mensagem da assessoria do banco estatal: 1) a operação foi legal; 2) o BB não comentará as condições do empréstimo nem se houve atraso no pagamento ou se as garantias da operação foram utilizadas.
Dizer que a operação foi legal equivale a dizer que o AI-5 foi legal. E daí? Daí nada. O BB sabe a besteira que fez. Sabe quem mandou fazer. E se diverte zombando de quem apenas deseja entender esse assalto ao dinheiro público patrocinado na era FHC.



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