São Paulo, quarta, 3 de setembro de 1997.



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POLUIÇÃO SEM MEDIDA

O rodízio de veículos em São Paulo para conter a poluição do ar terminou por aliviar o tráfego e chamar a atenção para deficiências do transporte coletivo. Foi, de todo modo, uma tentativa de impacto no que diz respeito ao controle de poluentes.
A futura introdução de testes periódicos da emissão de gases tóxicos pelos automóveis deveria ser mais uma medida no sentido de controlar a poluição do ar. Mas ela de nada servirá se os critérios forem tão pouco rigorosos quanto parecem ser os estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).
Em testes realizados pelo consórcio que venceu a licitação da prefeitura para fazer essa fiscalização, a emissão do principal poluente (monóxido de carbono) em automóveis fabricados em diferentes anos foi muito inferior aos largos limites permitidos pela atual regulamentação.
Um automóvel fabricado em 96, escolhido aleatoriamente e testado na presença da Folha, poderia poluir 34 vezes mais do que o faz de fato e ainda permanecer dentro do limite. Um outro veículo de passeio, com 21 anos de uso, poderia ser duas vezes e meia mais poluidor e receber aprovação. Depreende-se que aparentemente nenhum carro seria reprovado no teste. Um membro do Conama reconhece a tolerância dos parâmetros atualmente utilizados.
Com esses critérios, corre-se o risco de que, durante um bom tempo, o único resultado significativo dessa nova exigência seja o faturamento do consórcio que -sob protesto judicial- obteve o monopólio para realizar tal fiscalização, cobrando R$ 17,95 sobre cada automóvel.
Falta ao país, obviamente, uma política ambiental mais consistente. No caso dos testes de poluição, tudo indica que está à vista um desperdício de aparência virtuosa.





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