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Seja feita a luz (vermelha)
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - No fundo, acho que
merecia. Religiões, filosofias, ideologias -todas as manifestações do espírito humano sempre me deixaram na
mão, daí que nem mesmo com o avançar dos anos fiquei livre da dúvida sobre o que deveria fazer, pensar e sentir. São Paulo fala na "confusão deles
próprios". Aplicando ao meu caso, sou
confuso em mim mesmo.
Ou melhor, era. A partir de agora,
com a fulminante chegada do Bandido da Luz Vermelha à mídia, acredito
que meu tempo de dor e perplexidade
chegou ao fim.
Bem verdade que houve o antecedente do Ronald Biggs, que roubou
um trem em Londres e tornou-se guru
aqui no Brasil. Nos cadernos de amenidades dos jornais ele indicava os
melhores restaurantes, os melhores
pratos, o melhor chope. Não fiz muita
fé em suas dicas, afinal, era um inglês
que deve entender de chá e asma. Nada mais do que isso.
Com o Bandido da Luz Vermelha temos um exemplar nativo, coisa nossa,
que conhece nossos macetes e pode me
indicar o que de melhor devo fazer,
gostar e sentir.
Além das dúvidas a que qualquer
homem se permite, por exagero da
carne má de que fui feito tenho milhões de outras dúvidas, algumas suportáveis, outras abomináveis. Nunca
sei onde posso comer a melhor pizza,
comprar o melhor livro (muito menos
qual seria esse "melhor livro"), qual o
bar que me serve o melhor uísque.
Com o espaço que editores e cronistas estão abrindo para o novo Petrônio-árbitro, ficarei sabendo qual o
melhor desodorante, qual a melhor
atriz da TV. Nos espaços mais sérios,
terei afinal as respostas que inutilmente procurei até aqui: o aborto é
crime ou necessidade social? Haverá
concórdia na Bósnia? E os palestinos?
E a âncora cambial? Clinton merece
ser condenado por assédio sexual? E
onde estão os ossos de Dana de Teffé?
Minha pauta de dúvidas é imensa,
variada e não deixa de ser divertida.
As respostas também serão divertidas.
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