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São Paulo, sexta-feira, 03 de outubro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Uma questão de idioma

SÃO PAULO - O embaixador brasileiro Adhemar Bahadian, co-presidente das negociações da Alca (ao lado do norte-americano Peter Allgeier), fez em português, pela primeira vez na história das negociações, o seu discurso na sessão de abertura da reunião do Comitê de Negociações Comerciais da Alca.
Trata-se da mais alta instância técnica do que pretende ser a Área de Livre Comércio das Américas.
Bahadian deu duas explicações para usar sua própria língua: é "um dos poucos idiomas falados em quatro continentes (América, África, Europa e Ásia) por mais de 200 milhões de pessoas" e, em segundo lugar, "a exclusão do português como língua de trabalho seria, obviamente, prejudicial à sociedade brasileira".
Explicações à parte, suspeito que se trate de mais um passo no confronto verbal cada vez mais agudo que opõe o Brasil aos Estados Unidos nas negociações da Alca.
O confronto pode acabar com o dualismo nas relações entre os dois países. Explico: quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Washington, faz pouquíssimo tempo, os dois governos estavam dispostos a deixar de lado as divergências para focar as convergências (sei que é um velho ritual diplomático, mas, neste caso, parecia uma iniciativa sincera de parte a parte).
Entre louvações recíprocas e grupos de trabalho conjuntos criados para estudar uma vasta pauta, parecia que o relacionamento se encaminhava para um bom momento.
Aí, veio a criação do G20 plus, o grupo de países em desenvolvimento liderado pelo Brasil, veio o fiasco de Cancún, veio uma baita irritação dos negociadores comerciais norte-americanos e, agora, um novo confronto no âmbito da Alca.
Como comércio, hoje em dia, marca o tom da diplomacia, parece cada vez mais claro que os dois países definitivamente não estão falando a mesma língua -como o prova o discurso de Bahadian.


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