|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Uma questão de idioma
SÃO PAULO - O embaixador brasileiro Adhemar Bahadian, co-presidente
das negociações da Alca (ao lado do
norte-americano Peter Allgeier), fez
em português, pela primeira vez na
história das negociações, o seu discurso na sessão de abertura da reunião do Comitê de Negociações Comerciais da Alca.
Trata-se da mais alta instância técnica do que pretende ser a Área de Livre Comércio das Américas.
Bahadian deu duas explicações para usar sua própria língua: é "um dos
poucos idiomas falados em quatro
continentes (América, África, Europa
e Ásia) por mais de 200 milhões de
pessoas" e, em segundo lugar, "a exclusão do português como língua de
trabalho seria, obviamente, prejudicial à sociedade brasileira".
Explicações à parte, suspeito que se
trate de mais um passo no confronto
verbal cada vez mais agudo que opõe
o Brasil aos Estados Unidos nas negociações da Alca.
O confronto pode acabar com o
dualismo nas relações entre os dois
países. Explico: quando o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva esteve em
Washington, faz pouquíssimo tempo,
os dois governos estavam dispostos a
deixar de lado as divergências para
focar as convergências (sei que é um
velho ritual diplomático, mas, neste
caso, parecia uma iniciativa sincera
de parte a parte).
Entre louvações recíprocas e grupos
de trabalho conjuntos criados para
estudar uma vasta pauta, parecia
que o relacionamento se encaminhava para um bom momento.
Aí, veio a criação do G20 plus, o
grupo de países em desenvolvimento
liderado pelo Brasil, veio o fiasco de
Cancún, veio uma baita irritação dos
negociadores comerciais norte-americanos e, agora, um novo confronto
no âmbito da Alca.
Como comércio, hoje em dia, marca o tom da diplomacia, parece cada
vez mais claro que os dois países definitivamente não estão falando a
mesma língua -como o prova o discurso de Bahadian.
Texto Anterior: Editoriais: GUERRA DE INTERESSES
Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz: A tartaruga PT Índice
|