São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Do dever cívico

RIO DE JANEIRO - Costuma ser tranqüilo o dia das eleições em si. A baixaria da campanha faz uma pausa, depois vem a choradeira, surgem as impugnações, as surpresas. Mas o comparecimento do eleitorado geralmente é pacífico e disciplinado.
Houve tempo em que tudo era diferente. Saía tiro, as urnas desapareciam, as atas eram falsificadas e a apuração, nos dias seguintes, levava semanas e era contestada pelos perdedores. Tanques de guerra nas ruas, armas ensarilhadas em cada seção eleitoral. Um cabo de polícia em algum lugar do território nacional, visivelmente embriagado, dava um tiro na cabine que a Justiça Eleitoral e a imprensa chamavam de "indevassável". Nesse ponto, acho que houve um avanço significativo no ato da eleição. Uma ou outra exceção não conta. A regra geral é boa.
Antes de conhecermos os resultados, de ficarmos alegres, tristes ou desesperados com o produto final da eleição, o bom é que estamos livres da campanha, da sucessão de caras, bocas e apelos na TV, nos jornais e nas ruas. O que fazer? Ainda não foi encontrado um meio mais civilizado, eficiente e indolor de colocar o candidato diante de seu eleitorado ou de seu não-eleitorado.
Uma opinião generalizada na população é a de que os candidatos são péssimos, nenhum deles convence nos 15 segundos de que dispõem para duas coisas impossíveis: resumir a vida inteira numa frase e resumir o futuro que nos compromete na outra metade.
Tenho opinião contrária, como sempre, pois aprecio o desfile dessas caras que, umas pelas outras, demonstram boa vontade para com a sociedade e confiança em si próprios.
Outro dia, fiz uma crônica sobre um tal de Wanderley que ameaçava vir aí. Seu slogan era: "Wanderley vem aí". Não cheguei a ver a cara do Wanderley, mas espero que ele venha mesmo.


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