São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Vacinas imbatíveis

VICENTE AMATO NETO e JACYR PASTERNAK

É imperioso frisar que todos os incumbidos de concretizar iniciativas ou providências no contexto da saúde pública precisam respeitar, indiscutivelmente, quatro premissas fundamentais: a promoção da saúde; a prevenção de doenças; o diagnóstico e o tratamento; e a atenção quanto às sequelas e à reabilitação profissional.
Tal maneira de agir independe de implicações políticas, de específicas convicções pessoais, de esquisitices, de exibicionismos e personalismos. A boa e progressista execução das partes previstas nesses itens proporcionará o sucesso almejado pela comunidade em geral.
Cremos que vale a pena detalhar componentes dos tópicos referidos.
A promoção da saúde significa incluir satisfatórias condições de educação, inclusive relacionada com a saúde pública, de habitação e de trabalho. Depende de salário suficiente e, mormente, de amplo e correto saneamento básico. Obedecidos estes ditames, ocorrerá sensível diminuição da quantidade de adoecimentos, o que configura algo muito expressivo, especialmente nos países em desenvolvimento.
Na prevenção de doenças estão a profilaxia de moléstias evitáveis por vacinas ou por outros recursos imunobiológicos com apropriados combates ao alcoolismo, ao tabagismo, à toxicomania, às doenças sexualmente transmissíveis e aos acidentes, só para citar problemas tidos como mais relevantes. É lícito reconhecer que determinadas situações entre as mencionadas não vêm suscitando atitudes coibitivas almejadas.
Diagnóstico e tratamento consomem, de maneira criticável, as maiores parcelas das verbas disponíveis e em geral insuficientes. A propósito, o SUS é comumente desrespeitado, porquanto há embaralhamento dos níveis primário, secundário e terciário de atendimento, existindo até crescimento do quaternário, que envolve altas complexidades.


É justo eleger a utilização de vacinas o mais bem-sucedido instrumento no âmbito dos trabalhos da saúde pública


Avanços tecnológicos, de reconhecido valor, não podem, porém, ser encarados como fins prioritários, já que representam meios válidos em certas efemérides, num âmbito que requer suficiência de outras medidas.
A atenção quanto às sequelas e à reabilitação é capítulo em que há marcante desinteresse e deficiências. Poucos órgãos dedicam-se às obrigatoriedades nele situadas e exige-se rápida e concreta mudança da conjuntura vigente.
Essa explanação didática, crítica e estimuladora de correções e progressos dá chance para que exaltemos setor que, de fato, vem gerando pujantes benefícios e ocupando a mais destacada posição no elenco que sintetizamos. Trata-se da área que depende do emprego de recursos imunobiológicos, destacadamente representados por eficientes vacinas.
O Programa Nacional de Imunizações, bem assessorado, ganhou paulatinamente ampliação, e acreditamos que esse crescimento continuará. Ele mostrou grande eficiência, porquanto erradicou a varíola e a poliomielite, permitindo prevenção exuberante de diversas doenças infecciosas. Aconteceu, paralelamente, a implantação dos Centros de Referência e Imunobiológicos Especiais, havendo ainda a cooperação de clínicas de serviços de imunização privadas. Ainda mais, quando necessário e viável, surtos epidêmicos foram enfrentados por intermédio de vacinas.
É justo, portanto, eleger a utilização de vacinas o mais bem-sucedido instrumento no âmbito dos trabalhos da saúde pública. Significa exemplo digno de ser imitado, prestigiado e ampliado.


Vicente Amato Neto, 75, médico infectologista, é professor emérito da Faculdade de Medicina da USP. Foi Secretário de Saúde do Estado de São Paulo (governo Quércia). Jacyr Pasternak, 62, médico infectologista, é doutor em medicina pela Unicamp.


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