São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O PROJETO MILITAR

O anúncio de que foi suspensa até o próximo ano a licitação para a compra de caças para a FAB (Força Aérea Brasileira) comporta várias leituras. Oficialmente, o adiamento se deve à necessidade de concentrar recursos para o combate à fome, a prioridade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os custos da aquisição de 12 jatos haviam sido estimados em US$ 760 milhões.
Mas ninguém deve achar que a suspensão da concorrência liberará imediatamente o dinheiro para programas sociais. Compras de aviões se dão através de financiamentos de longo prazo, normalmente bancados pelo país que produz os aparelhos. De todo modo, ao adiar a licitação, o governo deixa de contrair dívida em dólar e indica que está disposto a atuar com disciplina fiscal. São sinalizações importantes num momento delicado como o atual.
Do ponto de vista das Forças Armadas, a questão é um pouco mais complexa. Ninguém duvida da necessidade da FAB de obter novos caças. Os atuais Mirage estão obsoletos e só são operacionais até 2005.
O problema é que, antes de definir o tipo de equipamento a ser adquirido, convém que a Aeronáutica e, de modo mais geral, as Forças Armadas tenham mais claro o papel que vão desempenhar. Qual é a prioridade da FAB? Os caças servirão apenas para interceptar aeronaves envolvidas em contrabando ou tráfico de drogas ou terão outras missões, como apoio a operações terrestres e marítimas?
São questões que a Aeronáutica e as demais Forças Armadas precisam responder em conjunto com o governo e a sociedade. Não parece fazer muito sentido o Exército adquirir quase 200 modernos tanques pesados e, pouco meses depois, dispensar recrutas por falta de verbas.
O governo FHC deu o primeiro passo para a definição de um projeto unitário para as Forças Armadas com a criação do Ministério da Defesa, no lugar das três pastas militares. Cabe à administração Lula consolidar essa importante tarefa.



Texto Anterior: Editoriais: IRRESPONSABILIDADE
Próximo Texto: Editoriais: DEMANDA MUNDIAL

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.