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CLÓVIS ROSSI
O PT reencontra o PT
SÃO PAULO - Nos diversos escaninhos da Esplanada dos Ministérios, o
PT parece ter reencontrado o PT que
desbotara, com medo da reação dos
mercados, a partir do instante em
que a vitória eleitoral apareceu firme
no horizonte.
Não é, claro, o PT dos anos 80 -revolucionário, inflexível, socialista
(embora não soubesse bem que socialismo afinal defendia).
"A esquerda evolui. Seria um erro
dar respostas antigas para problemas
novos", explica Luiz Dulci, secretário-geral do partido até tornar-se secretário-geral da Presidência, um dos
quadros mais lúcidos do PT, apesar
de discreto, como manda a tradição
da política mineira.
O novo velho PT talvez escandalize
aquela parte da mídia e dos analistas
que foi a vida toda furibundamente
anti-PT para se tornar furiosamente
"lulista" desde a vitória ou pouco antes dela.
Essa fatia do Brasil até inventou
um completo disparate, o de que Lula
só foi eleito porque se tornou um moderado e aproximou-se do centro e
até da direita.
Tolice. É até possível que meia dúzia de eleitores de Lula tenham sido
convencidos pela moderação, pelo
discurso ortodoxo etc. Mas os outros
52 milhões votaram no superávit pessoal, não no superávit fiscal.
Votaram no superávit de educação,
de saúde, de emprego, de salário, de
comida, de bem-estar, de decência,
de ética e por aí vai. Como, aliás, o fazem os eleitores do mundo inteiro,
salvo em circunstâncias muito especiais e/ou nos poucos países já empapados de bem-estar social.
Se o PT for mera continuidade do
governo Fernando Henrique, aí sim
terá praticado estelionato eleitoral,
como diz, aliás, o corinho que alguns
tucanos andaram ensaiando.
Goste-se ou não do PT, goste-se ou
não da mudança, o PT foi eleito para
fazê-la. Será julgado pela competência com que a fizer ou condenado se
não a fizer.
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