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FERNANDO RODRIGUES
Lula e seus ministros
BRASÍLIA - O que poderia ser um fato isolado começa a tomar contornos
de regra geral. Lula torra seus ministros em público sem piedade.
O primeiro foi o titular da Casa Civil, José Dirceu. Depois de quase
anunciar em público que o PMDB
participaria do governo, Dirceu teve
de declarar o oposto em menos de 24
horas por decisão de Lula.
Agora, foi a vez do ministro da Defesa, o embaixador José Viegas Filho,
que tomou posse anteontem de manhã. À noite, foi surpreendido. O porta-voz do Palácio do Planalto, André
Singer, anunciou a possibilidade de
suspensão da licitação para a compra
de caças para a FAB (Força Aérea
Brasileira). A rigor, foi a suspensão
de fato que foi divulgada.
No dia seguinte, ontem, Viegas teve
de fazer seu primeiro contorcionismo
verbal para explicar o assunto. "O
presidente havia sinalizado nesse
sentido, mas não me havia dito a data da decisão", declarou ele em clima
de constrangimento.
No caso de José Dirceu, já apareceram versões conflitantes sobre o ocorrido. Nada indica que o ministro da
Casa Civil vá estar desprestigiado no
governo Lula. Muito pelo contrário.
Seu silêncio pós-fritura apenas o deixou mais fortalecido.
Já o episódio que envolve José Viegas Filho é diferente. A impressão geral é a de que o Ministério da Defesa
continuará pouco importante para a
Presidência da República, tal como
no governo anterior. Os sinais apareceram na dificuldade para encontrar
um ministro adequado. Optou-se por
um diplomata, que não era o sonho
dourado das Forças Armadas.
Agora, o Planalto resolve desagradar a uma parte não-desprezível dos
integrantes da Aeronáutica.
Entre os militares, respeito à hierarquia é quase tudo. Os comandantes
das três forças terão de confiar em
um ministro que, no primeiro dia de
trabalho, é surpreendido pelo Palácio
do Planalto com uma ação inesperada. Não é um cenário ideal para uma
área que ninguém gostaria de ver relacionada à palavra "crise".
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