São Paulo, sábado, 04 de janeiro de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Lula e seus ministros

BRASÍLIA - O que poderia ser um fato isolado começa a tomar contornos de regra geral. Lula torra seus ministros em público sem piedade.
O primeiro foi o titular da Casa Civil, José Dirceu. Depois de quase anunciar em público que o PMDB participaria do governo, Dirceu teve de declarar o oposto em menos de 24 horas por decisão de Lula.
Agora, foi a vez do ministro da Defesa, o embaixador José Viegas Filho, que tomou posse anteontem de manhã. À noite, foi surpreendido. O porta-voz do Palácio do Planalto, André Singer, anunciou a possibilidade de suspensão da licitação para a compra de caças para a FAB (Força Aérea Brasileira). A rigor, foi a suspensão de fato que foi divulgada.
No dia seguinte, ontem, Viegas teve de fazer seu primeiro contorcionismo verbal para explicar o assunto. "O presidente havia sinalizado nesse sentido, mas não me havia dito a data da decisão", declarou ele em clima de constrangimento.
No caso de José Dirceu, já apareceram versões conflitantes sobre o ocorrido. Nada indica que o ministro da Casa Civil vá estar desprestigiado no governo Lula. Muito pelo contrário. Seu silêncio pós-fritura apenas o deixou mais fortalecido.
Já o episódio que envolve José Viegas Filho é diferente. A impressão geral é a de que o Ministério da Defesa continuará pouco importante para a Presidência da República, tal como no governo anterior. Os sinais apareceram na dificuldade para encontrar um ministro adequado. Optou-se por um diplomata, que não era o sonho dourado das Forças Armadas.
Agora, o Planalto resolve desagradar a uma parte não-desprezível dos integrantes da Aeronáutica.
Entre os militares, respeito à hierarquia é quase tudo. Os comandantes das três forças terão de confiar em um ministro que, no primeiro dia de trabalho, é surpreendido pelo Palácio do Planalto com uma ação inesperada. Não é um cenário ideal para uma área que ninguém gostaria de ver relacionada à palavra "crise".



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